Li em algum lugar e há muito tempo que “sofrer é perder”. Perder um sonho, perder a esperança, perder a aposta num futuro outro, perder um livro, perder um objeto amado, e, sobretudo, perder um ente querido.
Perdemos um amigo. Querido. Amado por todos nós. Agregador e generoso, em tempos bons e em tempos ruins, quando a vida nos dá golpes. Jamais nos deixou sem uma palavra! E mesmo quando não consultado, era capaz de antever possibilidades e compartilhá-la, sempre em benefício do interlocutor. Não para si, mas para os outros. Ajuda.
Foi tolhido quando chegou a hora que não deveria ser esta. Deixou-nos órfãos de sua presença, mas não de sua amizade que estará sempre conosco. Não como lembrança, mas como presença encorajadora para enfrentarmos um mundo que ficou menor sem sua presença física.
Conhecerá sim sua segunda morte, quando todos nós que o conhecemos também partirmos. Ao término da lembrança física, surgirá o que foi: monumento à generosidade e à amizade. E monumentos não desaparecem quando vivem no espírito das mulheres e dos homens. Quando o monumento é valor e não peça física. Heron não deixará de existir, porque o amor e a amizade e a generosidade continuarão a ser parte da humanidade, mesmo tempos difíceis e sem paz.
Os amigos todos sabemos: a Fátima e seus filhos Júnior e Gabi sofrem desmesuradamente, mas têm a tranquilidade do consolo de que o marido e pai permanecerá em seus corações e nos corações dos amigos próximos e distantes, e nos corações de tantos a quem ajudou e que sequer conhecemos.
Meu abraço, meu amigo. Agonizamos com você mas ressurgimos das águas cálidas do mar de Jurerê para honrar sua história.
João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.
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