Estimado Professor Antonio Cândido, é com enorme satisfação que represento o reitor da Unicamp, Hermano Tavares, não apenas por se rum dos seus pró-reitores, mas também por ter sido, antes de mais nada, aluno e bem mais tarde diretor do Instituto de Estudos da Linguagem de nossa universidade. Do IEL, o professor Antonio Cândido foi o diretor instalador. Sua passagem pelo instituto seguramente deixou marcas que balizam até hoje sua história. Um espaço independente que valoriza a pesquisa e a atitude crítica, sem deixar de se preocupar com o ensino de primeiro e segundo graus e com os destinos políticos da nação. Com o professor Antonio Cândido aprendemos que a militância, suas andanças e suas errâncias, não prejudica a produção séria dos conhecimentos, mas enraíza essa produção na vida social. A Unicamp agradece o exemplo do professor, do militante e do pesquisador.
O senhor reitor designou-me para tornar pública sua mensagem. O professor Antonio Cândido tem sido para todos nós um modelo de cidadão, intelectual, escritor e professor universitário que nunca circunscreveu sua atividade aos domínios de seus interesses mais imediatos. Ao contrário, estendeu-a sempre pela militância, reflexão e dedicação esforçada a toda a sociedade brasileira, nas variadas conjunturas políticas e sociais em que tem vivido. Particularmente nesta universidade que hoje dirigimos, participou intensamente da elaboração do projeto do Instituto de Estudos da Linguagem, desde o embrião do Departamento de Linguística até a direção e implantação final desta unidade, em 1975. Aprendi a admirá-lo por sua presença no Conselho Universitário e pelo espírito com que dele falavam seus colegas e parceiros da administração. A presença de outros colegas, dentre os quais destaco o Prof. Carlos Franchi, demonstra o apreço que temos por Antonio Cândido e pelos que tiveram a feliz iniciativa de homenageá-lo.
Nota
- Na sequência cronológica em que venho recuperando os textos que escrevi, deveriam aparecer aqui outros dois textos (não estou incluindo nas publicações no blog os artigos escritos em coautoria porque isso demandaria outros trâmites): “O uso como lugar de construção dos recursos linguísticos” (publicado in. Espaço Informativo Técnico Científico do INES, 8, Rio de Janeiro, MEC/Instituto Nacional de Educação de Surdos, 1997:49-54) e “A prática da produção do texto escolar” (publicado nos Anais da VI Jornada Nacional de Literatura. Passo Fundo, UPF, 1997:127-144). Perdi os originais e as publicações em que apareceram…
Assim, vou direto a este texto escrito para uma sessão de homenagem a Antonio Cândido pelos seus 80 anos. Era eu Pró-Reitor e fui à sessão representando a Reitoria da Unicamp. Tínhamos recebido a instrução de que nosso tempo de fala não poderia ultrapassar cinco minutos. Cumpri à risca, e mas percebi que fui o único a fazê-lo. Antonio Cândido, que foi o diretor instalador do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp, merecia um texto bem mais alentado. Fiquei restrito à homenagem, e em nome do reitor, escrevi o segundo parágrafo do texto como mensagem que deveria lhe transmitir.
Nesta homenagem tive a grata satisfação de ficar ao lado de Chico Buarque e com ele poder conversar pela primeira e única vez na vida! Recordei com ele um de seus shows em Porto Alegre, em plena ditadura militar… Respirávamos então democracia! Agora vejo que foi curta, muito curta.
Este pequeno texto, mais institucional do que qualquer outra coisa, foi incluído no livro organizado por Flávio Aguiar, em que estão textos que foram lidos na homenagem e vários estudos sobre a obra do homenageado. {Antonio Cândido. Pensamento e Militância. São Paulo : Fundação Perseu Abramo : Humanitas/FFLCH/USP, 1999). Obviamente um texto institucional e formal como este não precisaria estar no livro! Enfim…
João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.
Comentários