ALIANÇA PELO BRASIL DE CALIBRE 38

Bolsonaro pai queria controlar o dinheiro – verba pública do fundo partidário eleitoral – no PSL e não conseguiu. Não deixaram ele mandar no partido. O projeto de novos laranjais, de autoria e interesse dos bolsonaros nas fazendas griladas, não foi aprovado pela direção e pelas forças de comando do partido, pelo qual o Bolsonaro se elegeu presidente do Brasil.

Fato curioso, ele tinha se filiado no PSL sete meses antes das eleições de 2018. Claro, ele se filiou só para se candidatar e se eleger. Daí para frente era só mandar no Brasil e no partido, sem ser presidente do partido.

O mais estranho e intrigante é o fato do Bolsonaro ter sido filiado como candidato e passar por oito partidos durante os 30 anos de vida pública. Acreditem! Oito partidos! Começou no PDC e passou pelo PPR, PPB, PTB, PFL, PP, PSC e PSL. Será que era o Bolsonaro que não gostava de nenhum partido ou será que nenhum partido gostava de Bolsonaro?

Agora Bolsonaro sai do PSL e cria o partido próprio à sua imagem e semelhança – de bala calibre 38! Fica a dúvida: o partido 38 ou o partido de 38? Cartuchos e balas de chumbo calibre 38 – revólver – são símbolos do poder de violência, de ataque para matar a quem se opõe politicamente. Esta é a aliança verdadeira pelo Brasil – armada de 38.

Trata-se de uma legenda aberta para o autoritarismo, para os ditadores e para os torturadores. Para todos que tem asco à democracia. Acima de tudo e de todos, quer messianizar a autocracia pelo apelo ao populismo grotesco e ao personalismo ignorante, camuflados de amigos na aliança com o povo.

Acontece que partidos políticos no Brasil vivem do dinheiro público. Eis a questão. Mais um partido – além dos já 32 em vigor – para ser sustentado por verbas públicas e enriquecer e empoderar políticos com dinheiro que faz falta à educação, à saúde, à cultura, à ciência e a tantos outros bens de todos.

Isso acontece só aqui, no Brasil.

Então, para que servem os partidos políticos? Por acaso, existiram, ao longo da história, e existem, hoje, sociedades e estados democráticos sem partidos políticos? Aqui está o nó da questão. Os partidos políticos são organizações imprescindíveis para a democratização das sociedades. Este é o pressuposto certo.

A questão difícil, polêmica, contraditória na essência e na práxis é a questão da qualidade dos partidos – a boa qualidade e a má qualidade – o modo de ser ético dos cidadãos que compõem e constituem os partidos políticos.

Aqui vou recorrer, porque considero ele de elevada qualidade, ao pensamento de Octávio Ianni sobre as forças políticas que vem dominando no curso dos tempos pós modernos da história.

Primeiro, ele se referte ao príncipe de Maquiavel – “uma pessoa, uma figura política, o líder ou condottiero, capaz de articular inteligentemente as suas qualidades de atuação e liderança (virtù) e as condições sociopolíticas (fortuna) nas quais deve atuar”. Assim, não há necessidade de partidos políticos.

Segundo, o partido político – o “moderno príncipe” na acepção de Gramsci – o partido político como organização social coletiva e não mais como uma pessoa, um líder individual como era o condottiero. O partido político como organização institucionalizada constitucionalmente na sociedade democrática.

Enquanto moderno príncipe, já que se cria no âmbito da sociedade de classes burguesa, capitalista, o partido político pode realizar a metamorfose essencial das inquietações e reivindicações sociais, em sentido amplo, em política, enquanto programa de organização, atuação, conquista do poder e preservação deste. Cabe ressaltar aqui que a teoria de Gramsci diz respeito ao partido político empenhado em expressar as inquietações e as reivindicações dos seus seguidores; mas, simultaneamente, capaz de interpretar as inquietações e reivindicações dos outros setores da sociedade. Quando se trata de luta pela conquista do poder, no entanto, seu objetivo principal, mais ambicioso, é o desafio de construir hegemonia alternativa na qual se expressem as classes e os grupos sociais subalternos em luta para realizar a sua vontade coletiva nacional-popular, alcançando a soberania.

 

Estes valores não tem data de vencimento na história.

Fica, então, mais uma pergunta: quais os partidos políticos brasileiros – dos 33 – atendem os sentidos e os valores formulados por Gramsci?

O partido 38 mirando para a ultradireita do Bolsonaro e para o ultraneoliberalismo de Paulo Guedes?

Será?

Sinceramente, você acredita?

José Kuiava Contributor

Professor, pesquisador, escritor
José Kuiava é Doutor em Educação pela Faculdade de Educação da Unicamp (2012). Atualmente é professor efetivo- professor sênior da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Planejamento e Avaliação Educacional, atuando principalmente nos seguintes temas: autobiografias.inventário da produção acadêmica., corporeidade. ética e estética, seriedade, linguagem, literatura e ciências e riso.