Você pode me inscrever na história
Com as mentiras amagas que contar
Você pode me arrastar no pó,
Ainda assim, como pó, vou me lenvatar.
Minha elegância o perturba?
Por que você afunda no pesar?
Porque eu caminho como se tivesse
Petróleo jorrando na sala de estar.
Assim como a lua ou o sol
Com a certeza das ondas do mar
Como se ergue a esperança
Ainda assim, vou me levantar.
Você queria me ver abatida?
Cabeça baixa, olhar caído,
Ombros curvados como lágrimas,
Com a alma a gritar enfraquecida?
Minha altivez o ofende?
Não leve isso tão a mal
Só porque eu rio como se tivesse
Minas de ouro no quinta.
Você pode me fuzilar com palavras
E me retalhar com seu olhar
Pode me matar com seu ódio
Ainda assim, como ar, vou me levantar.
Minha sensualidade o agita?
Você, surpreso, se consterna
Ao me ver dançar como se tivesse
Diamantes entre as pernas?
Das choças dessa história vergonhosa
Eu me levanto
De um passado que se ancora doloroso
Eu me levanto
Sou um oceano negro, vasto e irrequieto
Indo e vindo contra as marés me elevo.
Esquecendo noites de terror e medo
Eu me levanto
Na luz nunca tão clara da manhã bem cedo
Eu me levanto
Trazendo os dons dos meus antepassados
Eu sou o sonho e as esperanças dos escravos
Eu me levanto
Eu me levanto
Eu me levanto
(Tradução de Francesca Angiolillo)
João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.
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