A manhã começou triste, tão triste que vou tentar resistir e levar até ao fim esta mensagem aos amigos que me acompanham neste espaço.
A Maria Lúcia foi uma espécie de mãe da primeira geração de irmãos! Era então filha única, junto a mais seis irmãos. Acostumamo-nos com ela dando ordens na casa, enquanto nossa mãe, nesta época, não tinha boa saúde. Somente depois de alguns anos começaram a vir as irmãs, e então vieram uma atrás da outra: Loreni, Cristina e Fátima… a raspa do tacho foi meu irmão Antônio Carlos. Pessoalmente, sempre chamei a este grupo de a segunda geração! Eram os mais novos!
Mas nós, os mais velhos, tivemos uma convivência muito grande com a Maria Lúcia – a irmã mais velha que tinha autoridade sobre todos nós! Amava a todos. E nos ajudou muito: com a escola, e depois para enfrentarmos a vida. Até sapatos e meias de meu cunhado nos foram emprestados para irmos ao cinema Cisne na primeira sessão dos domingos à noite! Era o máximo da sofisticação na pequena cidade de Santo Ângelo, onde vivíamos.
Quando chegamos à idade dos estudos universitários, foi quem nos deu âncora, financeira e moral. Insistiu com nossos estudos. Quis ver-nos formados. Continuou depois a querer nos guiar, mesmo depois de adultos: nos queria casados com as filhas de bem da cidade!!! Insistiu mas não casou ninguém com suas candidatas e nem com os candidatos que apontavam para minhas irmãs já crescidas. Lembro isso para dar um pouco ideia do quanto ela foi nossa confidente, nossa irmã, nossa mãe postiça.
Casada muito cedo com Antônio Moreno, o Chico, teve nossos primeiros sobrinhos: Domingos, Inácio, Adriana e Rafael. Este tão mais novo, que nos foi dado, a mim e a Corinta, a chance de o cuidarmos, de o curtirmos, de vê-lo dar seus primeiros passos na praça da Catedral de Santo Ângelo!
Foi mulher guerreira! Quando o Chico ficou doente, dedicou-se de corpo e alma ao marido. Perdeu-o. Casou depois de alguns anos com Ângelo Pizolotto: mais uma vez teve anos de cuidados depois que ele sofreu um AVC com sequelas que lhe tirou fala e movimentos. E ainda assim achava tempo para a Loja que administrava, para dirigir uma ONG de acolhimento de meninas, de estar por toda parte ajudando.
Agora deixa-nos chorando. Assim, sem esperarmos. Sentiremos todos sua falta. Os filhos, os netos, os irmãos, os sobrinhos. Ela tinha uma predileção especial, correspondida, por minha filha Joana. Viveram sempre tão distantes e no entanto tão próximas.
Chorarei sempre por você!
João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.
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