A sala de aula em imagens

Jean Marc Cotê foi um ilustrador francês que viveu no século XIX. Durante a década de 1890, ele criou várias imagens que retrataram sua visão de futuro e suas ilustrações retratavam os anos 2000. As previsões de Cotê são muito interessantes e podemos dizer que ele não passou tão longe do que vemos hoje em dia. A ilustração que mais me chama a atenção é a ilustração abaixo, criada em 1899:

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A escola do ano 2000 é imaginada como um prolongamento da escola então existente e Cotê vislumbrou uma sala de aula em que os jovens recebem o conhecimento, que lhes é transmitido pelo professor, através de uma nova tecnologia. Os alunos estão sentados em fila, olhando para frente. Mãos cruzadas em cima da mesa. Eles têm capacetes de metal, ligados por cabos elétricos a uma máquina em que o professor coloca os livros.

Foi assim que o ilustrador Jean Marc Cotê imaginou e retratou a escola do ano 2000, num postal que era parte de uma série produzida para a Exposição Universal de Paris, em 1900. A iluminura abaixo, pintada por Laurentius de Voltolina no século XIV, retrata Henrique da Alemanha ministrando aulas na Universidade de Bolonha, mas que poderia retratar uma sala de aula dos dias de hoje:

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A escola parece ter adotado o estrado e o pulpito da igreja, e o professor, à semelhança do padre, começou a transmitir, expositivamente, a informação aos alunos, que a recebem de uma forma passiva. Ensina-se o grupo como todo, o que, muitas vezes, leva a que alguns não compreendam o que está sendo ensinado. Durante muito tempo, mesmo nas igrejas, as pessoas repetiam as orações em latim sem saber o que estavam dizendo. E hoje, o que acontece com os alunos?

O que as ilustrações têm de semelhante com o nosso tempo? Como lidamos com a possibilidade de acesso à informação por meio de aparatos tecnológicos? Quando deixaremos de tentar fazer da escola uma fábrica de alunos? Que tal tentarmos fazer o exercício de imaginarmos como será uma sala de aula daqui a 100 anos?

 

 Cristina de Araujo escreve neste blog as segundas-feiras.

Professora, pesquisadora e escritora
Cristina Batista de Araújo é professora Adjunta da Universidade Federal de Mato Grosso, desde 2009. Doutora em Letras e Linguística, pela Universidade Federal de Goiás. Tem experiência na área de ensino de língua portuguesa, tendo atuado durante 14 anos na Educação Básica pública e privada e em Escola do Campo. Desenvolve pesquisas em Análise do Discurso, com ênfase em linguagem, educação e mídia. Coordena grupo de estudantes-pesquisadores em nível de graduação e pós-graduação nos seguintes temas: letramento, ensino de língua, comunicação e mídia, discurso, história e subjetivação. É autora da obra Discurso e cotidiano escolar: saberes e sujeitos.