A racionalidade do nosso czar Paulo Guedes

Depois da Reforma Trabalhista, que prometia fazer aparecerem empregos aos borbotões, passamos pela Reforma da Previdência: agora sim, garantiam os economistas neoliberais, a economia crescerá e haverá emprego e renda. Pois não veio… e somente se festeja um soluço de elevação da atividade econômica, própria da época natalina e desta vez ainda ajudada pela liberação de parte do FGT para reavivar a economia, com os trabalhadores acertando suas dívidas.

Vivemos agora os tempos da Reforma Tributária. Agora sim, garantem as mesmas vozes, o caminho estará aberto para a felicidade plena de todos.

Para agradar os assalariados de renda em torno de três salários mínimos, cujo Imposto de Renda é descontado na fonte, há a proposta de redução da taxa de 26,5%     que incide sobre salários: baixará para 25%! São 2,5% a menos: um presente para a classe média.

Mas não festejem: sobre o lucro líquido das empresas o imposto de 25% baixará para 20%, ou seja, 5%… o dobro do ‘presentinho’ dado à classe média, aquela mesma que se vestiu de amarelo e está pagando o pato.

Bom, a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido indo para 20%, não se sabe se serão aí incluídos os bancos. Se para as empresas era de 25%, supõem-se que bancos são empresas e que estavam pagando esta taxa! Mas uma consulta na internet aponta que a taxa é de 15% sobre o Lucro Líquido… Mas digamos que não soube pesquisar e que os bancos não são beneficiados. Caem na vala comum das empresas. Então terão apenas 5% de vantagens extras com a reforma. E a classe média burra aplaudirá sem perceber que os ricos tiveram uma redução maior do que a que ela mesma ganhou de presente.

Na racionalidade de Paulo Guedes, a redução de arrecadação que esta benesse trará será compensada. Já imaginaram como isso vai acontecer? Pois aí vão os caminhos de salvação da arrecadação deste czar da nossa economia:

  1. Taxar a cesta básica. Os pobres pagarão a conta.
  2. Taxar o salário desemprego. Afinal, os desempregados têm que colaborar e pagar a conta do pato amarelo.
  3. Retirar a isenção de IRPF dos portadores de doenças graves e deficientes. Os doentes pagarão a conta.
  4. Não permitir mais deduções sobre a “renda” do salário do que gasta a mesma classe média com a saúde (planos de saúde, dentistas, etc.) – Como se sabe, as verbas para a saúde pública são uma calamidade, mas para Paulo Guedes saúde é um bem, e bem tem que ser comprado.
  5. Não permitir mais deduções com gastos em educação. Afinal, para que educar a população se já temos o Olavo de Carvalho para dizer o que é o certo e o errado. Basta seguir o Olavo, nem é necessário gastar dinheiro com alfabetização e estas coisas pobres.
  6. Taxar a distribuição de dividendos… que as empresas deixarão de fazer, porque afinal todas as despesas dos sócios – do rancho no mercado, da gasolina e oficina do carro até as despesas em restaurantes, viagens, passeios, etc – tudo fica por conta da empresa (os chamados salários indiretos). Aliás, todas estas despesas diminuem o Lucro Líquido, são dedutíveis do imposto! Para que distribuir dividendos se agora haverá imposto?

As propostas são pérolas do raciocínio neoliberal. Quem manda pobre ser pobre? Quem manda desempregado perder o emprego? Quem manda doente ser doente?

Mas a classe média vestida de amarelo ficará feliz com seus 2,5% a menos, esquecendo que ela mesma estará pagando o ‘benefício’ com o fim das deduções!

Resta saber como agirão os neoliberais que comandam o Congresso! A agenda de Paulo Guedes e de Rodrigo Maia, em economia, é a mesma do Estadão, da Folha de S. Paulo, da Globo…

Temo que os banqueiros venham para a rua: estarão brabos com a elevação da taxa de sua contribuição social sobre o lucro líquido de 15% para 20%. Todos os banqueiros reunidos numa manifestação a gente até vai pensar que é uma manifestação em homenagem ao Sérgio Moro!

João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.