A greve do magistério gaúcho e nosso destino comum (por Jaqueline Moll)

Enganam-se os que pensam que a greve das professoras e do professores do estado do Rio Grande do Sul, iniciada há alguns dias, só diz respeito às famílias cujos filhos estudam nas escolas públicas. Em todas as sociedades mais desenvolvidas que a nossa, a base para o desenvolvimento econômico está alicerçada sobre a qualificação do sistema público de ensino.

Dois exemplos de sociedades que, recorrentemente, voltam à vitrine dos louros educacionais e econômicos: Finlândia e Coreia do Sul. Sociedades muito diferentes entre si, mas que tiveram avanços extraordinários nos últimos anos, estabelecendo-se como economias sólidas e cenários sociais com grande desenvolvimento.

O incremento orçamentário e a valorização da educação pública foram fundamentais para que esses países se desenvolvessem e se destacassem no cenário internacional. Lições difíceis de serem aprendidas por governantes que seguem cartilhas ortodoxas e ultrapassadas de que é preciso destruir a coisa pública para que o setor privado se fortaleça e, como consequência, a economia se desenvolva.

Trágico cálculo para um estado no qual sobram discursos sobre o sistema prisional e faltam sobre o sistema educacional. Há 5 anos o RS padece desta demência. Não se criam vagas e cursos nas escolas, não se investe na Universidade Estadual, congela-se e parcela-se o salário do magistério e, efetivamente, não existe política educacional.

A educação pública figura nas falácias dos palanques eleitorais, porém não compõe os arranjos governamentais e os projetos de desenvolvimento. Tratada como problema, é despotencializada de seus recursos mais preciosos e que poderiam gerar frutos inequívocos para o desenvolvimento econômico, social e cultural do estado, exatamente pelo desenvolvimento da inteligência de nossos meninos e meninas, crianças, jovens e adultos.

Foi a inteligência humana que nos permitiu, por exemplo, o desenvolvimento tecnológico deste tempo histórico e que desfrutamos em todas as esferas da vida. E não é outro o lugar em que esta inteligência se desenvolve senão a escola pública, gratuita, universal e de qualidade, feita por profissionais que precisam ser elevados a mais alta estima da sociedade.

O oposto do que acontece nestes tristes pampas. Triste ver jovens governantes, velhos em ideias e mortos em ideais por um desenvolvimento social mais justo. Mais triste serão as consequências para todos e todas. No horizonte uma decrepitude civilizatória, uma sociedade emburrecida e manipulada, despossuída das rédeas de seu destino, despossuída de patamares elevados de cultura e ciência.

Como escreveu Ernest Hemingway, não pergunte por quem os sinos dobram, eles dobram por ti. A greve do magistério do Rio Grande do Sul é um grito de socorro, não individual, embora as condições de trabalho e salário estejam completamente aviltadas, é um grito de socorro por toda sociedade gaúcha que nem sequer se dá conta do abismo que se abre com a destruição da educação pública

Jaqueline Moll Professora titular da Faculdade de Educação da UFRGS
(Reprodução de postagem autorizada pela autora. Link original, clique abaixo.)

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Alexandre Costa Administrator
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