A  ESPETACULARIZAÇÃO AO VIVO DO CERIMONIAL DA POSSE

Pronto. “O capitão chegou”! Era grito em delírio na voz de quem mesmo? Ah! A voz do público na planície em frente do Palácio do Planalto. Jair Messias Bolsonaro é o novo Presidente do Brasil. Até ontem, antes da cerimônia de posse, a imprensa falava: “o presidente eleito…” Logo após a cerimônia de posse, a imprensa passou a falar: “o novo presidente do Brasil”. Se eleito, como eleito, em quais condições e circunstâncias históricas de campanha foi eleito… isso não importa mais, isso não vem ao caso. Assim, Bolsonaro chega ao poder por força de uma facada nas tripas. Um pouco antes do Bolsonaro, Temer também chegou ao poder da presidência do Brasil por força de uma facada nas costas da Dilma. Aí está o poder, a força da faca na luta de classes sociais.

Nas cerimônias de posse e transmissão da faixa de presidente, o público delirava aos gritos: “o capitão chegou”! E ele – o capitão sem farda, sem botas militares e sem boné – agradecia com riso nada ridente e gestos ora de união, de força, de solidariedade; ora de mando, de ordem e de continência com os dedos das mãos apontando para frente, simbolizando uma arma em posição de tiro.

Na cerimônia de posse, o primeiro ato real, montado e apresentado no palco do Congresso Nacional, foi vexatório: na mesa de autoridades no ato de posse, dos 12 atores havia apenas 1 mulher. Na plateia foi pior ainda: dos mais de 500 espectadores, não havia 20 mulheres. No ato de transmissão de faixa, no Parlatório do Planalto e na posse dos ministros, havia 20 ministros homens e 2 ministras mulheres. Esse é um dado real. A sensação é que ninguém percebe e nem se preocupa com esta realidade neste momento de posse do presidente Bolsonaro.

Quem assistiu conscientemente com inteligência e visibilidade as cenas de posse e transmissão, viveu um abismo de esperanças, de dúvidas e de desesperanças a um só tempo. Por diversas vezes eu senti náuseas insuportáveis.

Nos dois discursos que o presidente Bolsonaro proclamou, repetiu em tom de ordem militar, no início, no meio e no fim, a frase que enunciava na campanha eleitoral. E muitas outras frases que comprovam sua identidade humana e seu perfil político.

– “Brasil acima de tudo e Deus acima de todos”.

– “Minha vitória, nesse dia em que o povo começa a se libertar do socialismo”.

– Graças a Deus me mantenho vivo e graças a vocês fui eleito na campanha mais barata da história do Brasil”.

– “Vou acabar com a ideologia que defende bandidos e criminaliza policiais que combatem os criminosos”.

– “Todos queremos um Brasil melhor. Não podemos deixar que ideologias nefastas destruam nossas famílias”.

– “Aqui está a bandeira verde, que jamais será vermelha”.

– “Quero uma educação com crianças formadas para o mercado de trabalho e não para a militância política”.

– “Vamos reerguer a Pátria, libertando o Brasil da conspiração e do domínio ideológico”.

– “O Brasil voltará ser livre das amarras ideológicas”.

– “Nossas Forças Armadas terão nossa força para cumprir sua missão de segurança”.

– “Não vou gastar mais do que arrecadar”.

– “Vamos abrir nossa economia para o mercado internacional”.

– “Vamos superar a pior fase do Brasil que já vivemos”.

O agora presidente do Brasil, Bolsonaro, falou e disse essas coisas e muitas outras falácias em tom de promessas num horizonte passado e ultrapassado.

Diante de tudo isso, preciso lembrar ao agora presidente Bolsonaro que se “o discurso empolga, o exemplo arrasta”. Logo, o bom exemplo de conduta humana deve vir de cima.

O capitão e o coronel chegaram.

José Kuiava Contributor

Professor, pesquisador, escritor
José Kuiava é Doutor em Educação pela Faculdade de Educação da Unicamp (2012). Atualmente é professor efetivo- professor sênior da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Planejamento e Avaliação Educacional, atuando principalmente nos seguintes temas: autobiografias.inventário da produção acadêmica., corporeidade. ética e estética, seriedade, linguagem, literatura e ciências e riso.