À esperança, de Hölderlin

Ó esperança grácil! bondosa e diligente!

    Que não desprezas a casa dos tristes,

       E, serviçal de bom grado, ó nobre, reinas

         Entre mortais e potências celestes,

 

Onde estás? – Pronto vivi. Mas o anoitecer me bafeja

   Com seu hálito gélido já. E, como as sombras, eis-me

      Já calado aqui; e o coração sem canções

        Me adormece no peito arrepiado já.

 

No vale verde acolá, onde a fonte fresca

    Murmura caindo constante do monte

       E o belo colóquio me desabrocha no dia outonal,

          Lá, ó graciosa, quero eu, no silêncio,

 

Buscar-te, ou quando à meia-noite a vida

   Invisível palpita no bosque

     E sobre mim as sempre-alegres

       Flores, as estrelas brilham,

 

 

Ó filha do Éter! surge então

    Dos jardins de teu Pai, e, se podes vir

       Como espírito da terra, oh! assusta,

         Assusta-me ao menos o coração com outro Espírito!

(Hölderlin. Poemas. Tradução de Paulo Quintela.  Lisboa : Relógio d’Água)

João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.