A bala de prata ficará na culatra

 

A PF concluiu que Adélio Bispo de Oliveira, em sua tentativa de homicídio, agiu sozinho quando feriu o candidato fascista em Juiz de Fora: “Ficou claro que o motivo era o inconformismo político do senhor Adélio com os projetos políticos do candidato. A conclusão é que no dia desse ato, Adélio agiu desacompanhado de qualquer pessoa, não contou com a participação de ninguém”, afirmou o delegado Rodrigo Morais Fernandes, responsável pelo caso. [agenciabrasil.ebc.com.br]

O juiz federal Bruno Savino autorizara o contato do demente com a imprensa, negando pedido do PSL contra a entrevista, protocolado pelo deputado Fernando Franscischini na 3ª. Vara Federal de Juiz de Fora. Dizia-se que uma entrevista com Adélio iria ao ar na TV assim que encerrada a campanha eleitoral para o primeiro turno.

Estava, portanto, preparada a bala de prata… que poderia tanto ser lançada contra a candidatura de Fernando Haddad (como costumeiramente se fez contra o PT, desde o famoso falso sequestro de Abílio Dinis com o sequestrador vestindo uma camiseta da campanha de Lula, seguida pelos famosos “dossiês” denunciados pelo outro demente, José Serra), mas que também poderia ser atirada contra o próprio candidato do fascismo brasileiro. Adélio Bispo poderia negar que agiu a mando de Deus, e dizer que o PT mandou matar o fascista, ou poderia dizer que as próprias hostes fascistas haviam encomendado o crime…

Mas no TRF3, o desembargador Nino Toldo concede liminar suspendendo as entrevistas agendadas com Adélio Bispo, atendendo pedido do MPF. Claro, o assunto foi para o STF. Se o sorteio “cego” deste desmoralizado tribunal entregar o caso a Luiz Fux, dependendo da informação de qual seria a hipótese que se concretizaria nas entrevistas, que deveria ser aquela favorecendo seu candidato, o Geraldo ali da esquina, o ministro concederia ou não, monocraticamente, o direito à entrevista [e talvez determinasse que nada poderia vazar antes de se encerrar o período da campanha eleitoral, afinal Fux é foda e não tem limites morais].

Creio que a segunda hipótese é a mais provável, já que a imprensa toda vem batendo no candidato fascista, e está em polvorosa para conseguir de alguma forma emplacar o candidato de direita no segundo turno, evitando um confronto entre o PT (sempre um partido moderado mas a que a imprensa, que gosta de mentir a torto e a direito, têm chamado de extremista de esquerda) e a extrema direita que o centro-direita sempre abafou e teve como aliada mas que agora mostrou sua cara e não quer cair fora do jogo. Afinal, o STF ainda não se pronunciou e poderá fazer isso assim que encerrada a campanha… golpe por golpe, estão já acostumados. E Fux decidiria, se fosse o caso, em sentido contrário àquele da decisão sobre uma possível entrevista de Lula.

Se Bispo declarasse que o próprio candidato esfaqueado e sua campanha houvesse encomendado o crime, tudo se tornaria uma encenação que roubaria os votos fascistas e os canalizaria novamente para a centro-direita representado pelo candidato da Opus Dei, Geraldo Alckmin. Esta a bala de prata da direita.

Acontece que as pesquisas vêm mostrando que os eleitores da extrema direita não mudarão seus votos e considerarão falso qualquer golpe articulado pelos eternos golpistas, o centro-direita que se tem por “direita esclarecida”, liderada pelo estadista de Higienópolis, FHC e seus asseclas. Se as pesquisas têm razão, a bala de prata não surtiria o efeito desejado.

Está feito o imbróglio. Nem Fux salva… e o segundo turno será mesmo disputado por Fernando Haddad contra o fascismo… e a centro-direita representada pelo PSDB ficará em cima do muro, como gosta… mas o centrão que apoia sua candidatura desembarcará com armas e bagagens na candidatura fascista. Edir Macedo, o bispo, cardeal ou papa da Igreja Universal já desembarcou…

O centro-direita realmente chegará a sua estação final, como declarou o Prefeito de Manaus e um de seus líderes, Artur Virgílio: “O PSDB acabou”.

Enquanto isso, não se surpreendam jamais com nossos ministros do STF… seu presidente, nesta segunda-feira em comemoração aos 30 anos da Constituição de 1988, falou sobre os anos de regime militar no Brasil. Para ele, os militares serviram como uma ferramenta de intervenção que, em vez de funcionar como moderadores, optaram por ficar no poder. Com isso, os militares se desgastaram com ambos os lados, direita e esquerda, que criticaram o governo militar. “Por isso, não me refiro nem a golpe nem a revolução de 64. Me refiro a movimento de 1964”.

Ora, os militares se referiam ao “Movimento Revolucionário de 1964”, e bem assessorado pelo General Rocha Paiva, o acólito de Gilmar Mendes, o ministrinho Dias Toffoli repete a farsa: nem golpe nem revolução, mas “movimento”. Faltam apenas alguns passos para o nosso presidente do desmoralizado tribunal começar a apoiar uma intervenção militar se o candidato a vice, o General Mourão, não assumir o Palácio do Jaburu… e de lá comandar o capitão para que faça o que a ordem do dia mandar!

João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.