Direita volver! marcha! metralhar a esquerda!

Este é o grito de ordem do presidente na marcha do novo governo. E quem não marchar à direita vai preso pro quartel. Ou morre fuzilado.
Uma pergunta inocente e ingênua: se o nazismo era de esquerda, Bolsonaro e ministro Ernesto Araújo não seriam de esquerda, também? Resposta lógica: seriam.
Nazista ultraliberal  é aquele que pensa, promete e pretende acabar com os quilombolas e os negros, que são gordos e servem só para procriar filhos aos montes; com os índios, que são indolentes, não trabalham, não produzem e precisam ser civilizados como os invasores brancos; com favelados, que só criam e procriam criminosos, bandidos e traficantes; com os gays, os homossexuais, que denigrem e envergonham os seres humanos; acabar com os opositores, inimigos mortais dos governos de direita – da ordem e progresso –, todos marxistas, comunistas, socialistas, que ameaçam acabar com o desenvolvimento, com o progresso, com a liberdade. A lógica deste querer seria acabar com todos esses seres humanos anormais e impuros para garantir uma sociedade pura só de brancos.
Em atitude autoritária, exclusiva de quem proclama uma verdade inquestionável, dias atrás, Ernesto Araújo, então ministro das Relações Exteriores, proclamou do Brasil para o mundo inteiro uma lição de história do avesso, até então mal ensinada: o “nazismo era de esquerda”. De imediato, na mídia e nas redes sociais, o presidente confirma a lição do seu ministro: é verdade, o “nazismo era de esquerda”. Assim, Hitler era de esquerda marxista, comunista, socialista.
Que vergonha! Os historiadores, os cientistas políticos, os filósofos, os especialistas em ciências humanas, ninguém sabia e conhecia essa verdade histórica. Só o ministro e o presidente do Brasil!
Aqui vai uma outra pergunta bem intencionada: quais são as verdadeiras intenções ocultas e as estratégias disfarçadas desta proclamação? Proclamação que indignou o mundo inteiro e estarreceu a todos nós brasileiros, os que ainda temos o conhecimento científico da história real e que ainda não perdemos o bom senso.
Para compreendermos e entendermos as verdadeiras intenções e estratégias destas falácias, precisamos examinar o movimento “ultraliberal” do mundo ocidental de hoje. É associar o PT e a esquerda ao nazismo, ao ditador Hitler. É associar Lula ao crime, ao terrorismo. Assim, a verdadeira intenção e decisão é acabar com o Lula, o lulismo e o PT. Acabar com a esquerda que, no entender da extrema-direita poderosa, é comunista, marxista, socialista, que chegou ao poder presidencial do Brasil via democrática por quatro eleições presidenciais seguidas. Um temor e horror para as elites de direita.
As estratégias de garantir os governos de direita no poder via eleições, para garantir dinheiro público do estado às elites do alto capital, não foram inventadas primeiro no Brasil.
O atual neopopulismo de extrema-direita, em alta, está tomando conta dos governos do mundo ultraneoliberal, em maior potencial no ocidente, mas com potencial bélico intervencionista nos países do universo todo.
Por artimanhas, demagogias, promessas fantasmagorizadas, estratégias ardilosas, a nova direita mundial ultrapopulista está implantando um novo modelo de autoritarismo: autocracias de governos presidenciais ditatoriais, eleitos em processos eleitorais fraudulentos, protegidos pela justiça e popularizados pela mídia.
Assim,vão matando as democracias populares legítimas, legais e tradicionais.

José Kuiava Contributor

Professor, pesquisador, escritor
José Kuiava é Doutor em Educação pela Faculdade de Educação da Unicamp (2012). Atualmente é professor efetivo- professor sênior da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Planejamento e Avaliação Educacional, atuando principalmente nos seguintes temas: autobiografias.inventário da produção acadêmica., corporeidade. ética e estética, seriedade, linguagem, literatura e ciências e riso.