por Mara Emília Gomes Gonçalves | set 29, 2019 | Blog
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos
A paz sem vencedor e sem vencidos
Que o tempo que nos deste seja um novo
Recomeço de esperança e de justiça.
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos
A paz sem vencedor e sem vencidos
Erguei o nosso ser à transparência
Para podermos ter melhor a vida
Para entendermos vosso mandamento
Para que venha a nós o vosso reino
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos
A paz sem vencedor e sem vencidos
Fazei Senhor que a paz seja de todos
Dai-nos a paz que nasce da verdade
Dai-nos a paz que nasce da justiça
Dai-nos a paz chamada liberdade
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos
A paz sem vencedor e sem vencidos
por João Wanderley Geraldi | set 28, 2019 | Blog
Ganhei este livro de meu amigo, Prof. Dr. Bernd Fichtner. Hilchenbach é a pequena cidade em que ele vive. Estive por lá muitos dias… A Alemanha tem estas surpresas: densamente povoada, tem muitas metrópoles, mas com poucos habitantes.
As pessoas se distribuem nestas cidades, ou nas aldeias destas cidades como é Hilchenbach, com uma qualidade de vida muito superior àquelas das grandes metrópoles ao estilo dos países que foram um dia colônia, e que tiveram suas cidades “fundadas”, e não vieram com desenvolvimento de pequenas povoações que se foram tornando centros urbanos.
Este pequeno volume sobre Hilchenbach tem como subtítulo :
”Imagens de uma cidade que deve ser amada” (Bilder einer liebenswerten Stadt).
Estas edificações são muito antigas, e estão na rua central da cidade. Segundo o Prof. Fichtner, elas tinham uma característica – aparentemente simétricas em seus traços com as madeiras de sustentação, observando bem se descobre sempre alguma assimetria (quase uma assinatura do construtor). Somente depois da 2ª. Grande Guerra, este tipo de construção mostra uma simetria completa.
A foto abaixo, mostra o mesmo lugar em pleno inverno:
Duas instituições chamam a atenção dos visitantes: o Museu e o Ginásio (escola de ensino preparatório para a universidade, correspondendo aos nossos 5ª. série até o final de nosso ensino médio).
O Museu chama atenção não só pelo prédio, o antigo Wilhelmsburg, mas também pela temática de sua exposição permanente, que remete ao trabalho e seus instrumentos. Poder-se-ia dizer que é um “museu do trabalho”.
O “Gynasium” é uma edificação imponente que foi construída para abrigar as filhas dos Príncipes que não haviam se casado.
No centro de Hilchenbach há um relógio, com carrilhão de sinos que tocam uma música diferente a cada hora do dia.
No entorno estão as pequenas aldeias. Uma delas é historicamente importante: Ginzburg, onde está o castelo do Príncipe de Nassau, avô de nosso conhecido Príncipe Maurício de Nassau, cujo castelo fica na cidade de Siegen, de cujo distrito Hilchenbach faz parte, localizado na Renânia Norte-Westphalia.
Em Ginzburg o príncipe reuniu um exército de camponeses que marcharam contra os espanhóis que haviam dominado a cidade de Antuérpia, na Holanda, participando assim do processo de libertação dos Países Baixos (em torno do início do Século XVIII).
Este castelo foi reconstituído e hoje abriga um museu.
Referência. Alexander Wollschläger. Hilchenbach. Bilder einer liebswerten Stadt. Edição do autor, impressa em Siegen, em 1979.
por José Kuiava | set 25, 2019 | Blog
A Amazônia está queimando – incendiada por fazendeiros, madeireiros, grileiros e garimpeiros.
O mundo está fervendo – de medo do futuro.
Com lágrimas nos olhos, com dor latejante e profunda no coração, com medo e horror no cérebro, o mundo está cada vez mais unido e com a cidadania humana cada vez maior e mais solidária na defesa e proteção da vida planetária – planeta belo, maravilhoso, generoso, de riquezas sem fim e de coexistência de seres vivos ao infinito. Pasmem! Tão belo e tão rico, o planeta está ameaçado de morte geral, total. Condenado a um planeta sem vida. Por quem? Pelo habitante mais inteligente. O único ser vivo – por enquanto – dotado de inteligência consciente. O ser humano.
As agressões trágicas, destruidoras do ecossistema, por um punhado de seres humanos embevecidos pela ganância sem limites – seres que se “multiplicam e dominam tudo o que há sobre a terra” – estão gerando uma reação, ação contrária, à destruição do ecossistema planetário. O mundo está em movimento, cativado e unido numa frente ampla e universal única, inédita ao longo da história, em defesa, proteção e restauração do ecossistema terrestre.
Como tudo na vida, por força das leis físicas terrestres e espaciais do universo, está partido, dividido ao meio – a metade boa, sábia, confortável, vital, amorosa, poderosa e a outra metade, o seu contrário, má, doentia, desconfortável, mortal, odiosa, omissa, impotente – estamos vivendo uma greve internacional em defesa e por força da metade boa, ou seja, unidos na cidadania em defesa da vida, do ecossistema e contra os governos dementes e seus apoiadores vorazes, com monstruosos efeitos destruidores ecossociais, econômicos, ecoculturais, que vem atingindo o universo.
Primeiro, vamos ver a parte trágica, catastrófica, destruidora do ecossistema planetário pela ação e obra dos seres humanos. É triste, assustador, horrível, ver, olhar e assistir cenas, imagens de fogo devastador e fumaça poluindo, infestando e aquecendo a atmosfera celestial, ao ponto de esconder o sol brilhante. A notícia trágica é que mais de cento e trinta mil focos de incêndio já foram detectados, contados e nem todos contidos e apagados antes da devastação de florestas sem fim, no decorrer de 2019. O mais nojento e trágico é ouvir as mentiras, as falas falsas e trapaceiras dos governantes – seres humanos que, por força e obediência dos princípios de ética, deveriam dar o bom exemplo de cidadania com programas eficazes e eficientes de defesa, proteção e preservação do ecossistema planetário – no caso do Brasil, a Amazônia cobiçada, desejada e espoliada por devastadores nacionais e estrangeiros.
Em meio ao fogo e fumaça, há cenas nojentas de caminhões carregados, clandestinos, com toras de madeiras sendo levadas aos portos; há escavações profundas por máquinas poderosas e modernas, derrubando as florestas, aterrando vales e rios em busca de ouro e outros minérios preciosos, sem o mínimo de cuidado, respeito e proteção do ecossistema de nossa Amazônia. E aqui e agora, não tenho estômago de falar os nomes dos atores culpados por estas tragédias. Os discursos de Bolsonaro e Trump na abertura da Assembleia da ONU – 24/09/2019 – são insuportáveis. Nojentos.
Bem, agora a outra parte, cidadania nacional e universal, energizada pela coragem, pelo amor, pela vida em luta pela vida do planeta terra, é alentadora. Fiquei orgulhoso, valente e emocionado ver e escutar crianças, adolescentes e jovens aos milhões no mundo inteiro protestando aos gritos nas praças, nas avenidas, nos parques, em frente dos palácios, contra as agressões ao ecossistema e a favor do clima. Uma mobilização de jovens no mundo pelo seu futuro – do mundo e dos jovens. Movidos por uma consciência jovem aguda e por uma cidadania humana ativa, os jovens e manifestantes presentearam o mundo adulto com lições de coragem, inteligência e amor à vida.
Vou terminar este escrito com parte do discurso da jovem ativista sueca Greta Thunberg, 16 anos, quando falou ao plenário da ONU no dia 23 passado, na cara de lideranças mundiais. Com muita cortagem, inteligência e lucidez, Greta falou:
“Isso está tudo errado. Eu não deveria estar aqui, deveria estar na escola, do outro lado do oceano. Mas vocês vêm até nós, os jovens, em busca de esperança. Como ousam?”
“Vocês roubaram meus sonhos e minha infância com suas palavras vazias, mas eu sou uma das pessoas que têm sorte. Há pessoas sofrendo, pessoas morrendo, ecossistemas inteiros estão entrando em colapso. Estamos no começo de uma extinção em massa e tudo que vocês conseguem fazer é dinheiro e crescimento econômico eterno. Como ousam? Vocês estão fracassando conosco, mas os jovens estão começando a entender a traição de vocês. Os olhos da geração futura estão sobre vocês. E se vocês escolherem fracassar conosco, nós nunca vamos perdoá-los”(Fl. De São Paulo-B6, 24/09/2019).
Amazônia restaurada e preservada – um compromisso vital do Brasil e do mundo inteiro.
por Mara Emília Gomes Gonçalves | set 24, 2019 | Blog
Desde que a menina se foi eu sinto as olheiras cavando fundo sob meus olhos. Noites e nublados intermináveis, e faz calor em mim, embora meu coração com tudo torna-se frio. Eu não queria sentir, queria meditar e pensar que não foi comigo, que nunca será, mas em mim tenho anjos ou demônios que me fazem pensar…
Vejo a foto uma vez e tantas ainda, a dor cortante que as pessoas querem não sentir, mas sinto. Talvez seja o sorriso que é o de minha filha, os olhos brilhantes, a alegria. A família poderia ser a minha, e ainda que seja filha de outros, fosse filha ou filho de outros a dor que me corta poderia me alcançar com as tantas filhas que as salas de aula me deram, eu estaria, como estou: devastada.
É uma menina, e se fosse um menino – já foram tantos nesse ano – indiferentemente eu estaria assim sem chão.
A poesia de Drummond é um grito:
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.
Um deserto vai alcançando, tanta dor faz uma imensidão, e vejo meus filhos com o alvo no peito aberto, querendo dançar, jogar bola, sonhar, andar de bicicleta. Ser criança dessas que se alegram com coisas simples, que acreditam no futuro, esse mesmo que está sendo rasgado, tomado e aviltado.
Não tenho palavras, só lamento, e lágrimas. Tiraram Ágata, que tinha nome de pedra preciosa, algumas pessoas dizem que tal cristal da família dos silicatos tem poder de harmonizar e curar, eu não sei, queria a menina viva, nessa vida estranha, cheia de coisas ruins.
Não queria acidentes, exceções recorrentes e comuns. Não queria tiro matando crianças, nem famílias sentido tanta dor. Não ter a certeza que muitos ainda estão na mira, e terão suas preciosidades negadas.
Uma pedra preciosa demais, uma vida preciosa demais, uma história pelo avesso, a gente chora e se deixa alcançar pelo tiro, esperando o pior quando era preciso cuidar e guardar.
– Deus, quem puxou esse gatilho? E antes ainda quem alimentou tanto ódio de um povo negro e pobre? A polícia não é o policial, mas o sistema! Quem tirou de nós a humanidade? Que Deus aceita que uma parte de nós não merece estar vivo porque não tem dinheiro, não tem a cor certa? Porque Deus você permite que estejamos no mundo para ser chicoteados? Para ser humilhados? Mortos? Assassinados? É por isso que estamos morrendo? Não acredito mais que você está nos liberando desse caos para um lugar melhor…
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.
Não tem descanso em paz.
por Mara Emília Gomes Gonçalves | set 22, 2019 | Blog
Carvoeiros
I.
O cerrado prefigura o carvão?
O capim agreste quando não se acende pelas coivaras do sol,
guarda estoques de queimadas para empregar nas secas futuras.
A secreta ciência dos bichos adverte: ali ema não bota ovo.
– O Cerrado sabe seus atalhos…
A promessa de vida que no ovo lateja,
o trabalho de vida que no ovo lateja,
o disparo de vida interrompido no ovo
adia a vida que pulsa nos seus guardados:
a vida sabe,
a vida se esquiva para prosseguir.
Asa astúcias da vida inventam umidades para derrotar os ministérios do fogo?
Quem saberá? O cerrado é celeiro de águas: nascentes.
O cerrado prepara o deserto?
Será o caminho entre o areal e a floresta?
Ou, ao contrário, é passagem entre a floresta e o pó?
O cerrado é a multiplicação,
as infinitas diferenças:
o labor paciente do mel e das frutas e seus ácidos.
O cerrado incorpora o trabalho dos ventos,
das águas exiladas,
sacudidas do lombo
pelas forças primitivas da terra.
O cerrado é assim: desigual.
O trabalho dos homens organiza o cerrado.
Organiza desertos transgênicos de soja.
Desertos verdes de soja,
desertos secos de soja,
desertos…
II.
O carvão dos cerrados
desorganiza o alento dos homens.
A respiração sob a fuligem,
envenena a infância dos homens: sangra.
Sufoca.
Aterra na cinza a promessa do voo.
Os olhos desses meninos libertam,
sob a fuligem, fagulhas
de arrastar entre os fornos
os ossos da infância.
As linhas das mãos humanas prefiguram
o deserto?
Contemplo as mãos do carvoeiro.
Ásperas. Negras. Anoitecidas pela jornada.
Empunharam durante o dia as sementes do sol
presas nas tochas, nas bocas dos fornos.
Agora que se vai o sol, sitiado pela extensa escuridão dos cerrados,
as tochas são sementes de um sol extinto
trabalhando celeiros de noite e de carvão.
Conhecerão algum dia,
essas mãos pesadas sobre a mesa
o surdo poder que carregam: a possibilidade do deserto?
III.
O forno figura um ovo.
Um ovo de terra úmida:
barro arredondado
pelas mãos do carvoeiro.
Um ovo que arde na fumaça.
Um ovo grávido de morte:
devora a lenha dos homens,
a vida dos homens,
os sonhos dos homens,
os homens…
O carvoeiro faz o forno.
O forno refaz o carvoeiro.
Assalta sua pele, os olhos, a medula:
o carvoeiro sonha sonhos de carvão.
O carvoeiro faz o forno.
O forno refaz o carvoeiro.
Multiplica-o em cada forno novo:
ovo onde a morte lateja.
O carvoeiro quando mira o gato contratador,
seus olhos padecem de desterros.
Recriam os primitivos territórios da vida avulsa,
de onde veio e atinam por um instante:
a distância é a mãe dos submissos.
As mãos estendidas para recolher o vale
que prolonga sua servidão
sabem de êxodos e algemas:
os braços adquirem a feição escura dos machados.
IV.
O lingote de aço
contem no seu fogo
a paisagem que devorou?
O lingote não oferece,
antes esconde dos meus olhos,
a paisagem devastada.
A usina se nutre
dos ossos dos cerrados
e dos sonhos escassos dos homens.
A usina converte em aço,
a paisagem e em cinzas,
o coração dos homens.
O lingote é o filho aceso
da usina que oculta no seu fogo
a lógica do deserto.
Pedro Tierra, no livro “O Porto Submerso”. Brasília: Edição do Autor, 2005.
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