Reinventar as universidades

Reinventar as universidades

Como preâmbulo, primeiro precisamos olhar, examinar, desfetichizar e entender o verdadeiro lado externo das universidades – o mundo real material histórico. Ou seja, entender as forças estruturais e conjunturais e seus protagonistas e atores que geram e determinam as crises políticas, econômicas, sociais, culturais e de governabilidade do Brasil atual – 2019. Por extensão, conhecer o governo atual – suas bravatas diuturnas – que temos, conhecer as forças que  constituíram e que mantém o atual presidente. A análise crítica desta conjuntura – uma análise em  “profundidade na penetração” – é condição imprescindível e urgente das universidades. Um exame delas por elas mesmas. É uma condição “sine qua” as universidades não se reinventarão e refundarão. A omissão política das universidades é o pior pecado que elas vem cometendo – um crime contra elas mesmas e contra a sociedade que as sustenta e mantém.
Porém, não basta examinar o Brasil que temos. Precisamos examinar o mundo. Ou, que mundo é o nosso mundo? Mundo que constituímos e que nos determina? Para examinar em profundidade, na teoria e na prática, e para compreender em profundidade e em nível elevado os sentidos e os valores pedagógicos, científicos, tecnológicos, sociais, culturais, artísticos e compreender as missões e os compromissos das universidades, primeiro, precisamos situá-las no mundo contemporâneo – últimas décadas do sec. XX e primeiras décadas do sec. XXI. Antes e acima de tudo, precisamos conhecer as missões das universidades e as próprias universidades neste mundo que temos. Um conhecimento do todo, no qual estamos inseridos e no qual somos determinados e determinantes– lugar e espaço determinados nos dias de hoje.
E qual a nossa postura, a nossa práxis cotidiana, e nosso ato responsivo, no cotidiano do espaço e do tempo das nossas universidades?
Precisamos nos sentir orgulhosos sempre das nossas universidades e alentados pelos nossos atos responsivos na construção diária persistente das universidades que concebemos, criamos e formamos para manter  vivas e vigorosas,  hoje e sempre.
A decisão consciente e o compromisso ético humanitário intelectual – teórico e prático – de examinar em profundidade a totalidade das relações que constituem e formatam as universidades que temos e construímos coletivamente, é uma postura voluntária consciente, que precisa se materializar em atitudes, posturas e compromissos individuais e coletivos,  enquanto atos responsivos permanentes de quem ama e respeita as nossas universidades.
Este exame vivo, necessário e permanente, precisa acontecer nas relações de alteridade dialógica. No diálogo, é necessária e imprescindível a tolerância mutua, onde e quando ninguém manda e impõe, e ninguém obedece e silencia. Todos contribuem e compartilham. 
Para conhecermos e compreendermos os sentidos e os valores humanos, na convivência corpórea, intelectual e sentimental; para sentir, dizer e escrever a importância pedagógica, científica profissional e estética das universidades, em seu espaço e seu tempo, precisamos examinar em profundidade a totalidade dos acontecimentos cotidianos nas circunstâncias internas e externas. Sempre na pura e total visibilidade e transparência.
A práxis – ação transformadora – da reinvenção das universidades requer uma participação consciente, permanente e um compartilhamento dos reitores, pró-reitores, diretores, chefes, coordenadores e de todos os professores; requer a participação dos diretórios acadêmicos, dos centros acadêmicos e de todos os  estudantes; requer a participação dos sindicatos, das associações e de todos os funcionários de cada universidade. O método e a dinâmica das análises, dos exames e dos debates cada universidade organiza internamente a seu modo.
No caso da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste, já está em movimento uma organização própria. Original e inédita. Um grupo de professores e funcionários, amigos e saudosistas da universidade, fundou o RODA DE CONVERSAS DIALÓGICAS DA UNIOESTE, em fins de 2017. O ponto de partida e a caminhada são as discussões públicas, e o ponto de chegada será uma nova estatuinte. O enfoque central é a universidade que inventados, concebemos, arquitetamos e desenvolvemos: a universidade que temos. Esta é a base para inventar a universidade que queremos.
Por fim, é oportuno lembrar que o diálogo e o compartilhamento exigem uma estética da fala e uma estética da escuta.

Sobre convites e afogamentos

Sobre convites e afogamentos

Espero. Acabo de ler de um colega que períodos curtos significam pobreza de escrita, explicou assim: – como a pessoa não domina todos os mecanismos de evolução, gradação, e organização dos períodos, deve optar por períodos curtos e simples, de modo que estes sejam organizados em blocos de ideias que ao final, revelem o sentido que se quer dar ao texto. Então, tá.

Antes de dizer sobre escrita e leitura, e sobre minha incompetência em aulas fordistas preciso fazer um grande parênteses, e talvez me alongue tanto que não explique, mas é sobre isso. É preciso dizer que na próxima semana o prof. Wanderley Geraldi estará na Faculdade de Letras da UFG, minha casa de origem – onde sempre esteve em leituras e estudos linguísticos, formação de professores e admiração – dada a sua relevância para o ensino de Língua Portuguesa no Brasil e linguística.

Estou ansiosa e neste texto partilharei um pouco dessa ansiedade, dada a conjuntura política do país o encontro pode ser mais tímido do que deveria, e nisto entendemos muito do porquê chegamos ao ponto onde estamos. Sem medo de errar Geraldi está para os professores de língua portuguesa, e linguistas o que Paulo Freire está para pedagogos.

É um texto convite, sem sê-lo. É um texto de muita gratidão.

Sempre gostei de pensar na escrita e na leitura de narrativas como um jogo de quebra-cabeças nunca antes vistos, perceba que as palavras estão ali, e a sua arrumação, cada palavra colocada, ou retirada, imersa, ou submersa, cada pecinha de um quadro infinito, pertencente a um contexto, descontextualizada, não têm um lógica única, de forma que não pode formar um único quadro, mas múltiplos e inclusive nenhum.

A linguística, para mim (devo tomar cuidado uma vez que escrevo em um blog de um dos maiores linguistas do país), é esse não jogo de quebra-cabeça que muito mais se assemelha a uma busca incessante de novas imagens e possibilidades a partir das investigações que prefiro chamar de jogo de procurar. E, então, pobre que sou não construo períodos longos, antes faço períodos de apenas um verbo: Espero. Ainda assim, diante das minhas limitações, inclusive de escrita, com parágrafos curtos, me lanço ao mar. Saberei eu navegar? E vou produzindo leituras e escritas que desafiam e desagradam a ordem gramatical, e social vigente.

Espero. Assim mesmo, como Drummond, repito. Me deu conta então de porque é necessário que meus alunos saibam mesmo sem ter lido alguns bons textos e observado a genialidade do mineiro que a estética da repetição é um recurso importante, mas é autoria. Que juntos lendo os textos, identifiquemos as repetições do autor, e por meio delas reflitamos que as coisas mudam inclusive e, sobretudo, de acordo com o sujeito que diz e o modo de dizer. Isso é dizer para os meus alunos e para mim que: repetir não é autorizado a qualquer um. Veja bem, não se apegue meramente ao autor, o que contrario e quero desvelar é maior, são as relações de poder, de quem pode dizer o que quer dizer.

Seguindo, quase ao me afogar no mar, respiro. Professores em sala são salva-vidas e suicidas. Os manuais, os conteúdos, e todo o mundo que importa para alguém. Quem? Não há plural de quem, a gramática me diz.  Prefiro o poeta que diz que estamos por um triz. E tantos mundos ali acontecendo.

Ao escrever repito, porque conheço a estética da repetição, então a trago para o texto, anunciando-a, e posso usá-la porque o conhecimento confronta as regras, até as próprias regras. Dito isto, ocupo agora o lugar bem confortável da repetição: Espero. Não me entendam mal, não quero aqui criticar o poeta, quem sou eu (?), mas é preciso estabelecer em nossas leituras os lugares das hierarquias: ensinar a ler os enigmas sociais.

Espero. E também tenho pedras no caminho, e plurais vários. Entendem o que digo das pecinhas e palavras do jogo de procurar? O saber e o texto me salvam de novo. Sempre o texto – aprendi com Geraldi.

Desde o primeiro momento estava ali esperando no porto, sem as passagens para o embarque. Era preciso antes compreender que o texto, não estéril, seria soberano afinal, porque ao ler eu falo de mim, das minhas compreensões, do que sei, do que acredito e o aluno fala de si, e então dialogamos verdadeiramente.

Meus eus vários: professores com esperança de transformação. Perguntar para o texto: tens a chave?

Nada disso faz sentido, continuava parada sem poder embarcar, é que para alguns o embarque não é imediato, muitas vezes é pelas margens, outras tantas apenas pela surdina uma vez que somos e fomos invisíveis. Até que o invisível se fez visível, realidades enxergadas por meio das palavras. A aula como acontecimento: as pessoas, todas elas, inclusive eu, mulher, negra, sendo enfim sujeito do meu texto: dos que leio e dos que escrevo.

Muito tempo. Ainda espero. Não espera de ficar esperando, mas de esperançar, sabe como? Só poucos sabem. E, eis que vem do próprio Geraldi a leitura que convida a integrar seu blog. Esses convites muitas vezes poderiam chamar salvamento. Mal sabia ele que um tanto antes já havia aceitado outro convite seu (marejado de Fernando Pessoa) extensível a todos os professores, vejam:

“Navegantes, navegar é preciso viver. Nossos roteiros de viagens dirão de nós o que fomos: de qualquer forma estamos sempre definindo rotas – os focos de nossas compreensões.“ (Geraldi, João Wanderley. Portos de Passagem. 4ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.)

Uma lástima presente um poema latejo

Uma lástima presente um poema latejo

Senhor capitão
Sinceramente
Você de presidente
O Brasil não vai pra frente
Com seu intestino latente
De dia você mente
De noite você desmente
E goza ridente
Azar da pouca elite descontente
E de toda gente
Pobre e doente
 
Senhor capitão novamente
Para ser presidente competente
É preciso ser um ser inteligente
Você chama os estudantes conscientes
De idiotas úteis e imbecis
Porque seus oponentes
Mas abraça e beija
Os políticos em sua volta
Cúmplices ignorantes
Falsos clementes
Idiotas inúteis assistentes
Porque seus amigos dementes
 
Senhor agora presidente
Na fala recente
Com a voz enferrujada estridente
Você proclama muito valente
Brasil é país ingovernável minha gente
E esqueceu de dizer honestamente
É ingovernável sim por um presidente incompetente
Um presidente não inteligente
Fala fala fala somente
E diz bobagens demasiadamente
Com palavras chulas deseducadamente
 
Senhor mais uma vez presidente
Assim a sua mente
Só mente
Dê ao Brasil
Um presente generoso
De coração amoroso
Não seja mais presidente
Entregue o cargo
Solenemente
Sem embargo
Faça o Brasil todo contente
Legitimamente
Você será diferente
Não mais presidente
Senhor capitão de antigamente

A água já bate na bunda?

A água já bate na bunda?

Começo dizendo que não é verdade que a água bateu na bunda de muita gente só agora. Embora isso, em grande parte, seja verdade. É que não posso fazer esse discurso uma vez que já esteja afogada em meio mar, pulando nas pontinhas dos pés para buscar ar.
Quem acompanha o que escrevo sabe que há muito tenho dito de várias questões que advém de 2013: impeachment da Dilma, reforma trabalhista, governo Temer, assassinato de Marielle, prisão de Lula, esgarçamento das instituições democráticas, e, sobretudo e em tudo isso, a ascensão na sociedade da direita e do conservadorismo, caracterizadas em práticas racistas, preconceituosas, e fascistas.
Não poderia dizer de outro modo que não fosse confessando pela ignorância meu desconhecimento dos grupos paramilitares ou chamadas Milícias. Até bem pouco tempo imaginava eu que fosse uma organização muito mais adepta do “jeitinho brasileiro” de garantir segurança. Aqui na minha ingenuidade pensava ser algo como as rondas noturnas, em que motos passam na vizinhança assegurando com seu alarme a patrulha. E, esse país continental tinha muito mais guardado, e nisto devemos agradecer ao cinema de Padilha com Tropa de Elite por abordar o tema, mesmo que um tanto enviesado, o que sabemos desperta pouco interesse para o além das telinhas e telonas, quando muito sustentam a curiosidade com novelas e dramaturgias de ótica tão ou mais enviesadas, ou seja: afunda-se cada vez mais no poço. Nessa altura eu pergunto: teria fundo afinal?
Certo é que antes precisamos fazer a tarefa de casa, desvendar o que são as milícias e o seu funcionamento, seus planos de expansão, para entender como hoje atuam inclusive em grupos militares, ou afinal já ficou claro como um ex-policial militar tinha posse de um carregamento de 117 fuzis e outras munições dentro de um condomínio de luxo, não dá para pensar que seria para uso pessoal, ou tampouco que ali tenham chegado por um truque de mágica ou ilusionismo. De que modo esses grupos adentraram na política, o poder ou deveria dizer poderes, e hoje se avizinham da residência presidencial – permitam-me compartilhar da ingenuidade própria de Poliana, de Eleanor H. Potter.
Não é demais imaginar que parte dos que saíram as ruas defendem as instituições que assinam seus títulos de ensino médio, graduação, pós-graduações, muito por uma espécie de zelo com o que desejam para currículo dos seus filhos e filhas, o que não é errado, mas e minúsculo perto da real importância do que significa a educação de um país. É certo que parte dos que não saíram, também tem as mesmas assinaturas e instituições em seus currículos, vangloriam-se inclusive destes feitos, como se a dificuldade de acesso por si, falasse mais do que o próprio aprendizado. Então porque não saíram? Porque esses já trocaram a esperança de toda uma sociedade por sua segurança financeira individual, tsic, tsic,… tsic,  compram 19 imóveis por exemplo, ações da Petrobras, participação em lucros de bancos, títulos de capitalização, investem no exterior, sonegam impostos que dariam todo orçamento da saúde, investem bilhões na eleição de um candidato enquanto parcela suas dívidas trabalhistas com a previdência em 115 anos, ou assinam laudos de barragens como as de Mariana e Brumandinho. Pessoas nocivas e com expertise de mercado.
Os milicianos em momento algum imaginam o que ficará para o futuro, de que servirá a soberania de um povo? Que importância tem a cultura e sobrevivência indígena? Como em um filme distópico, as coisas tem fim em seu próprio fim, não há futuro. Consigo traçar um paralelo deste comportamento aos alunos de faculdade em salas de 4º ou 5º  anos, quando passávamos chamando para paralisações ou atos, muitas vezes ouvia deles – chancelados por professores – que atrapalhávamos as aulas, que já estavam formando que não precisariam daquilo ali.
O absurdo dos absurdos, e não quero que pensem em filhos. Mesquinharia com mesquinharia se paga. A lógica do ensino e da educação não pode ser essa do consumo individual, mas essencialmente do que o saber produz para a sociedade.
Ao não se importar com a preservação das universidades, das pesquisas, das praticas de extensão estamos assim como os milicianos, narcotraficantes e banqueiros dizendo que existimos para o mero lucro de uma parcela cada vez menor da sociedade. É assim com o clima e a preservação de uma das principais florestas do mundo. Como poderíamos garantir que o álcool ou etanol seja mais eficiente e menos poluente do que a gasolina? Como medicamentos e pesquisas podem fazer pessoas viverem com mais qualidade de vida? Como a linguística, o discurso, e as tecnologias podem aproximar aprendizagens de universos intelectuais distintos? Como as artes e as práticas esportivas podem diminuir a violência e o alcance o narcotráfico sobre os jovens? Enfim, pesquisas desenvolvidas em prol de uma sociedade.
É urgente que as universidades não parem de produzir, mas que agora, mais do que nunca se desdobrem em produzir consciência crítica não apenas em quem frequentam seus espaços e enquanto consomem seus serviços, numa analogia ao motorista que troca pneu e enquanto dirige, mas que consigam ampliar seus conhecimentos e alcance para toda a sociedade, conseguindo dar visibilidade a importância da cultura, do saber e da produção nacional para nossa soberania e bem viver.
Sem dúvida alguma é animador assistir gerações diferentes na marcha em defesa da educação, mas é necessário que essas mesmas pessoas não sejam enganadas pelo canto da sereia que acham que a defesa da educação nada ou pouco tem a ver com a defesa de um ex-presidente que promoveu os maiores avanços nesse setor, e não, não era tudo a mesma coisa. É preciso ainda que parcela saiba que ir pra rua hoje, não se restringe a 15 de maio, a um grandioso e numeroso ato, de encher os olhos é verdade. Simboliza a verdade das ruas, um chamado da educação é não das grandes mídias peçonhentas que queriam o perdão de suas dívidas ou de uma justiça em oprol de um bilhete premiado do STF. Os que foram as ruas, e muitos mais, precisam conversar com as pessoas, com cada um daqueles que se confundiu, ignorantes do poder das milícias, das mídias e de uma justiça tacanha. Marchar é continuar atento e em luta, muito mais do que alcançar os tredding topics do twitter ou máximo de views dos youtube, significa reconhecer que o projeto derrotado encabeçado por um professor perdeu para fake news, uma indústria que continua operando para destruir a universidade e a ciência brasileira, derrotaram numa aliança do ruim com o que há de pior travestido de combate à corrupção e moralismo – faça o que eu digo não faça o que eu faço.  É preciso que se diga que a tecnologia para extrair petróleo na camada pré-sal foi investimento em tecnologia, educação e pesquisa PÚBLICA.
E pensar que antes de Temer, a briga era pra destinação de 10% do pré-sal para a educação. Águas passadas que não batiam nas bundas e não movem moinhos hoje.
Um novo suspiro e novo fôlego, mas ainda não consigo dizer que a Marcha da Educação do dia 15 de maio foi capaz de me deixar na superfície. Para os que a água alcançam o tronco e quem sabe os ombros, as ditas grandes minorias, continuem nadando, não parem, vocês são sobreviventes, eu sei. Aos que conseguem ver luz no horizonte, porque já estavam lá na frente, continuem nadando ainda mais forte e só voltem com ajuda, porque daqui onde estou às câimbras e sensação de dormência de tanto tentar ficar viva impedem de alcançar grandes distâncias.

Mas que foi uma mar de gente, e um mar revolto, ah, isso foi.  

Se o Brasil estivesse certo, por Jaqueline Moll

Se o Brasil estivesse certo, por Jaqueline Moll

Se o Brasil estivesse certo, Portugal estaria errado! Só que não!!!!
Fiz ontem a conferência de abertura do Congresso da Rede Portuguesa de Cidades Educadoras, como no mês de abril em relação a Rede Mexicana congênere.

Ligadas a Associação Internacional de Cidades Educadoras, essas redes são compostas por cidades que abraçam a ideia de que o poder público tem uma importante função educativa que além da escola, bem e direito inegociável em sociedades evoluídas, envolve suas ações em todas áreas de atuação: saúde, ambiente, saneamento…inclusive as finanças.

Porto Alegre já compôs esta Rede e deu ao mundo lições importantes através do Orçamento Participativo. O trabalho continuado gestão após gestão, em décadas, baseado nas premissas do Estado de Direito, da democracia, da transparência e sobretudo na concepção de que o povo é o maior patrimônio das cidades e dos países e, portanto, ele é o grande investimento a ser feito, permitiu a este pequeno país ibérico tornar-se um dos lugares mais seguros para viver, além de destino turístico e de grandes investimentos.

Nada de armas, nada do fim das ciências humanas, nada de cortes nas áreas sociais e, principalmente, na educação. Portanto, se o Brasil estivesse certo nos delírios dos que hoje o governam, me refiro ao governo federal, ao governo estadual do Rio Grande do Sul e a cidade de Porto Alegre onde vivo, os portugueses estariam errados. E isto não é possível.

Governados por uma coalizão de partidos de centro esquerda, no âmbito nacional e em muitas e muitas cidades, ninguém por aqui tem medo (medos que são sempre construídos) de comunistas ou socialistas, outro sinal de nosso triste atraso. Ontem ouvi prefeitos (presidentes de câmaras municipais) honrando seus postos e falando de cidadania, inclusão, ampliação de oportunidades educacionais, bibliotecas, arte, cultura, esportes…

Contraponto absoluto ao escárnio que se tornou a política brasileira em relação a estes temas. Triste que em meu estado e minha cidade, jovens velhos mandatários só falem em cortes, em crise, em redução de serviços…sem falar da idiotia que tomou conta do governo federal.

Portanto o caminho a ser trilhado é o percorrido por Portugal!! Não tenho nenhuma dúvida!!!!

  • Texto de autoria da Professora Jaqueline Moll (foto abaixo), foi publicado originalmente no facebook. A reprodução neste blog foi autorizada gentilmente pela autora.
Jaqueline Moll é uma professora universitária brasileira e uma das principais referências sobre a Educação integral. É professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.