por João Wanderley Geraldi | ago 31, 2017 | Blog
A presença indecorosa de juízes nos holofotes da imprensa, entre nós, é uma novidade dos anos 2000. Mesmo um Nélson Jobim esperou sair de STF para se tornar militante político. Agora, isso é desnecessário. Permanecem com a toga a julgar a torto e a direito, exercendo ao mesmo tempo militância partidária.
Certamente o melhor exemplo, aquele que em Semântica chamaríamos de “prototípico” é o militante do PSDB e nas horas vagas ministro do STF Gilmar Mentes. Sempre foi suspeito, desde que chegou ao STF pelas mãos do não menos suspeito sociólogo suposto estadista FHC. Antes quem falava do ministro era a “esquerda” supostamente inconformada com suas decisões ao arrepio de outras interpretações da lei. Mas agora ele (deveria escrever Ele?) virou unanimidade nacional! Até a possuída professora Janaína Paschoal, aquela que recebeu a pomba gira e girou, girou a bandeira nacional! Ela mesma. Pois até ela está falando mal de Gilmar Mentes (grafia proposital, só para lembrar).
Obviamente há outros juízes que podem aparecer na lista dos “prototípicos”: o Moro é o candidato maior e que estava por suplantar o ministro. Ele inexistia como jurista e mesmo como juiz até retornar bem informado dos EEUU, prender seu amigo Alberto Youssef e saber através dele do esquema todo da Petrobrás. É público e notório que um doleiro sabe tudo… As pessoas se “confessavam” com ele, e por isso ele pode abrir o jogo para Moro. Nada a ver com a espionagem dos EEUU grampeando telefones e descobrindo segredos industriais (e falcatruas de diretores) de uma das maiores empresas do mundo, e a primeira em tecnologia de exploração de petróleo em águas profundas. Nada a ver. Tudo lhe foi dito, dito ao juiz dos holofotes: Sérgio Moro se tornou herói nacional. A imprensa o incensou e o elevou aos céus, ao infinito… De repente, eis que aparece um criminoso que queria ser delator e que diz o que não deveria ter sido dito: há cinzas por baixo da Lava Jato e não provêm apenas dos queimados vivos! Veio a público o juiz a dizer que não se pode dar crédito a um criminoso confesso que delata… Ora, ora… é precisamente com base em delações de criminosos que Moro condena a torto e a direito, mas quando são delatados pessoas de bem, ou “não vem ao caso” ou não merecem crédito!!! Até mesmo a reportagem sobre o lançamento do filme sobre a Lava Jato está eivada de ironias… Que está acontecendo, afinal?
O problema é que agora os holofotes já não fazem brilhar. Moro começa a ser ligeiramente criticado (até a publicação da “falsa” delação inexistente surpreende por ocupar páginas dos jornalões!). Já não se fazem mais “dallagnóis” como antigamente. A imprensa deixou de fabricá-los. Que está acontecendo com a imprensa e sua relação com os superiores desígnios da magistratura?
E anotem: com uma frequência nunca vista, aparecem reportagens sobre salários e penduricalhos percebidos por juízes, desembargadores, procuradores et caterva. Tudo mancheteado e denunciado. Consequência da “Lei da Transparência”, uma herança deixada pelos governos petistas, herança que a mesma imprensa faz questão de silenciar? Somente porque agora se tem acesso, a imprensa ficou sabendo dos salários acima do teto nacional do servidor público? Ora, o jornalismo investigativo não existe apenas em blogs da internet. Antes existiu na imprensa “oficializada”. Mas a imprensa sabia e calava. Está falando agora: qual o motivo?
Tudo que desabona juízes e procuradores está chegando às páginas dos jornais. Os encômios, as laudas em louvor, quando não o descarado de puxa-saquismo está cedendo lugar aos podres que rolam nas alturas! Por que a delação não aceita foi para a imprensa? Por que Gilmar Mentes e as suspeições sobre ele se tornaram temas de reportagem da imprensa “oficial”? Que há por trás das manchetes sobre salários de juízes, desembargadores, procuradores?
Como interpretar esta reviravolta na imprensa? Uma resposta superficial poderia ser o fato de que procuradores e juízes estão deixando de dizer “isso não vem ao caso”, e “pessoas de bem”, como Aécio Neves ou Jacob Batista, estão entrando na lista de criminosos. Seria mesmo isso? Um salvar os amigos? Afinal, como ensinou um assessor do tirano imperador da Etiópia, Hailé Selassié I, “que melhor forma de limpar um nome senão sujando daquele que achamos que queria sujar o nosso?” (Kapuscinski, O Imperador, p. 90)
Penso que esta é uma resposta superficial. Para o capital, para a verdadeira elite nacional, pouco se lhe dá que um Aécio Neves vá para a cadeia! Seria apenas para mostrar que “eles” cortam na própria carne! Penso que as razões para tudo vir à tona (e que vem à tona não é nada bom para esta magistratura descarada e aproveitadora, o que não significa toda a magistratura nacional, mas esta em particular) devem envolver interesses econômicos mais profundos. Envolvem? Quem sabe a resposta? Eu não sei.
por José Kuiava | ago 30, 2017 | Blog
Era uma vez no país das maravilhas um vice presidente que tomou o poder da nação pelo golpe baixo do “impeachment”, beatificando este ato obsceno de “democracia constitucional”. O nome de batismo deste pseudopresidente é Michel e o sobrenome, Temer. Ele é acusado, este presidente, de múltiplos e poderosos crimes contra a Nação. Continua livre e soberano.
Dias atrás, em cena na televisão, com voz e gestos de plena amabilidade, o presidente autocompetente, proclamou e advertiu que, neste momento, o Brasil precisa de plena harmonia dos Três Poderes da Nação. Advertiu a todos os incrédulos que a harmonia dos Três Poderes é constitucional, portanto, é lei e precisa ser cumprida com rigor para garantir a ordem e o progresso que tanto precisamos. No final daquele dia, também na televisão, falou um ministro do governo temeroso e confirmou tal e qual o dito pelo seu presidente, a quem está servindo. Uma descoberta inédita e incrível nos horizontes da opinião pública: um amor conjugal a três, determinado pela Constituição.
Fiquei comovido perante estas cenas. Tive a sensação súbita de náuseas e vontade de vomitar. E fiquei também intrigado e curioso, já que não sou um conhecedor profundo e nem leitor assíduo da nossa amada Constituição. Conheço, apenas, o estritamente necessário para cumprir as obrigações e usufruir dos direitos garantidos na Constituição. Embeveci-me de coragem e fui ler o texto constitucional. Fiquei encantado de súbito quando li o que está escrito no Parágrafo Único, do Art.1º: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. Não tinha nem abafado o suspiro e senti um calafrio em dobro quando li o Art.2º: “São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”. Eis que o presidente Temer tem razão. Só que no mesmo instante vi uma luz resplandecente iluminar uma inscrição bem grande no firmamento: “Dilma tem que voltar à presidência do Brasil”. Claro, pensei, ela foi deposta por ato de “desarmonia” dos Três Poderes, por ter praticado pedaladas pelos caminhos do Planalto Central nas manhãs de sábados, domingos e feriados. Portanto, se a harmonia dos Três Poderes é lei constitucional, Dilma foi deposta de forma inconstitucional. Ou, é o caso em que prevalece a força soberana do poder quando a lei vale apenas para uns e em certas situações ela não se aplica? Vejamos de novo: “Todo o poder emana do povo, que [o povo] o [poder] exerce por meio de representantes eleitos…”, como isso é possível se mais de 95% do povo brasileiro não queremos o Temer como presidente, mas que seja condenado e vá para a cadeia? Como ele pode governar a Nação – que amamos tanto! – em nome de menos de 5% dos brasileiros? Claro, com a força da lei da harmonia e com a força do amor casamenteiro dos Poderes.
Ao continuar a leitura do texto constitucional me deparei com outra maravilha no Art.5º: “Todos são iguais perante a lei…”. Pensei: está aí a questão. A igualdade humana é constitucional, está na letra da lei! Mas, de repente, o sentimento maravilhoso se esvaiu e me perguntei pela bilionésima vez: porque uns são mais iguais que os outros se a Constituição determina que todos somos iguais? Ah, mas é somente iguais perante a lei, dizem os inteligentes, não nas condições sociais de vida real. Aí vem mais uma pergunta – essa velha e “diabólica” maneira de fazer perguntas ao estilo de A Conversão do Diabo – porque os senadores, os deputados, os governadores (quem mais?) podem roubar, corromper e ser corrompidos, praticar crimes sem fim e de todos os tamanhos e não podem ser condenados, nem presos e nem perder seus mandatos e cargos políticos? Mas é claro, eles, os senadores, os deputados, os governadores se deram “foro privilegiado”, “imunidade parlamentar”. Certa vez na história dos homens era proclamado: “todo poder vem de Deus e em nome Dele deve ser exercido”. Aí está a fonte da inspiração.
A harmonia social é do pensamento e método idealista-positivista e requer a ordem total para o progresso da humanidade, mesmo nas desigualdades sociais, que devem obedecer a rigor as leis naturais. Enquanto que, em seu oposto, o conflito social é do pensamento e método dialético materialista histórico, que busca a igualdade social no conflito das contradições e na desarmonia das desigualdades. Na ideologia positivista é a desordem, altamente nociva à sociedade capitalista.
Pelas leis positivistas, os Três Poderes precisam estar em harmonia constitucional: as medidas e os planos pensados e tramados, mesmo quando contra os trabalhadores e os contribuintes, no Gabinete da Presidência – Poder Executivo – precisam ser apreciados, votados e aprovados nos nobres salões dos plenários da Câmara e do Senado – Poder Legislativo – que precisa, em sua instância final, da aprovação no Tribunal Supremo – Poder Judiciário.
Assim, esta lei da harmonia dos Poderes é válida e se aplica somente quando o governo é das elites do capital, mas quando o governo é dos trabalhadores, vale a lei do conflito, do confronto e desarmonia dos Poderes para destituir o(a) Presidente da Nação.
por João Wanderley Geraldi | ago 29, 2017 | Blog
Acompanho com interesse e alegria, como grande parte da esquerda brasileira, o percurso de Lula pelo Brasil, nesta caravana iniciada pelo Nordeste. Como todos os outros, espanto-me com o carinho que lhe dedica a população nordestina, nas grandes e nas pequenas cidades.
Também ri do triste papel da justiça baiana, ao proibir a entrega do título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Recôncavo Baiano: a inveja percorre as cortes, como sempre. Triste papel. Aliás, se esta mesma justiça fosse acionada, tentaria retirar-lhe os títulos que recebeu no exterior. Ora, se houve durante os governos petistas uma política educacional, foi precisamente na área do ensino superior, incluindo o ENEM como forma mais democrática de acesso às universidades (infelizmente, nos demais níveis aprofundou a política neoliberal).
Lula e seus assessores escolheram um roteiro de defesa contra os desmandos de Sérgio Moro, um roteiro não jurídico. O anúncio de sua candidatura à presidência quando saiu a já esperada e sabida sentença de Moro fez parte desta tática. Certamente há outras do ponto de vista jurídico, mas seus advogados continuam apostando que a lei impera quando o que impera é o objetivo final e absoluto do golpe de 2016.
A elite brasileira e o Departamento de Estado norte-americano, com seus organismos de perseguição a lideranças que não rezem pelo catecismo dos interesses daquela nação, aliado aos sistemas de cooptação de brasileiros através de cursos oferecidos inclusive a juízes – Moro é aluno frequente – não realizariam um golpe de estado, retirando uma presidenta eleita sem que houvesse crime de responsabilidade, para virem a morrer na praia! De jeito nenhum!
O golpe seria inútil se o caminho do retorno de Lula e do PT ao governo permanecesse aberto. Não se trata, na verdade, simplesmente de uma pessoa. Trata-se de um projeto de nação com desenvolvimento e com desenvoltura para participar, junto com outros países, na formulação de políticas alternativas. Os EEUU detestam os BRICS! Uma união de países do porte da Rússia, China, Índia, África do Sul e Brasil, criando inclusive um banco de investimento próprio, é tomado nos EEUU como uma afronta. E principalmente é tomado como ofensa ao sistema financeiro internacional. Países como estes poderiam começar a regulamentar o fluxo de capitais, à medida que se tornariam independentes das políticas das grandes corporações financeiras, política que responde a um só nome: lucro exorbitante mesmo custando vidas humanas e mesmo reduzindo a civilização a um arremedo de si mesma.
É isto o que está em jogo. Políticas de inclusão, como aquelas praticadas nos governos petistas, são até aceitáveis. Mas uma política que vá além na distribuição de rendas, que vá além das fronteiras delimitadas do país, isto é inaceitável para os organismos que hoje somente servem ao capital especulativo.
Qualquer criança brasileira já sabe o teor da decisão do TRF de Porto Alegre: os desembargadores manterão e talvez até aumentem a pena aplicada a Lula por ser “o proprietário de fato” do tríplex de Guarujá, mesmo este bem fazendo parte do patrimônio e das garantias oferecidas pela OAS, de propriedade do delator Léo Pinheiro, aos seus muitos credores. Não importa, porque a verdade, num golpe, não importa.
Havia dois caminhos possíveis para eliminar a política que a pessoa de Lula representa: um atentado físico que o levasse à sepultura (porque não havia nem há qualquer possibilidade de um suicídio) ou sua condenação como criminoso, condenação esta acompanhada de um martelar constante da mídia para fazer o povo crer na palhaçada em que se tornou certa justiça brasileira, de juízes soberbamente bem pagos (eles sempre têm férias para vender, porque além dos dois meses de recesso, têm mais dois meses de férias para porem à venda). A chamada República de Curitiba, na verdade a longa vara de Sérgio Moro, bem treinada nos cursos e compartilhamentos de informações nos EEUU, está aí para prestar este serviço. E o prestará com exatidão. É sua parte no jogo do golpe.
Os desembargadores do TRF da 4ª. Região não vão negar fogo: porão Lula na cadeia. E ele será proibido de participar das eleições de 2018. E o pior é que a tática de defesa não inclui qualquer plano B capaz de manter viva a chama de uma proposta de nação. Aliás, a presidenta do PT diz isso alto e bom som: Nosso plano A é Lula, nosso plano B é Lula e não há outro plano. Se não há, a caravana de Lula pelo Nordeste deve ser entendida como a despedida de um grande líder popular de seu povo. É o que estamos assistindo de fato.
Terei um gosto imenso de reconhecer, e espero ardentemente reconhecer, que minha análise de hoje não se confirme no futuro de 2018.
por João Wanderley Geraldi | ago 27, 2017 | Blog
Haiku
Fim das aulas. Seis
horas: na mesma algazarra
pardais e guris.
Com trapos, o rosto
enxuga da chuva a lua:
o lenço de nuvens.
Como um prisioneiro
a lua me espia pelas
grades do banheiro
Pôr-do-sol.
Em resposta o edifício
acende as luzes
(Luiz Bachelar, Satori. Manaus : Ed. Travessia, 1999)
por João Wanderley Geraldi | ago 26, 2017 | Blog
Tematizando a guerra, o escrito nigeriano Uzodinma Iweala nos faz vê-la pelo olhar de um menino-soldado, Agu, incorporado a um grupo de rebeldes depois que estes destruíram sua aldeia e mataram seu pai. Sua mãe e irmã haviam fugido antes, levada pela ONU como refugiadas. Ele, apesar de criança, sendo o filho homem mais velho, segue a tradição e fica com seu pai esperando a guerra.
A guerra que o leva a se fazer soldado, a ser massacrado por um Comandante pedófilo, e a aprender a massacrar e matar enquanto sonha em encontrar sua mãe e sua irmã, sem abandonar jamais o desejo de ser um dia engenheiro ou médico!
A narrativa de Uzodinma é comovente. E a leitura flui criando ao mesmo tempo raiva e revolta contra a guerra, contra qualquer guerra. Obviamente o texto é de ficção, mas sabemos todos que meninos-soldados foram incorporados e se tornaram soldados que cantavam os soldados adultos:
Soldado, Soldado
Matar Matar Matar
É assim que você vive.
É assim que você morre.
Caminhando pelas estradas, escondendo-se na mata, invadindo aldeias, matando quando lhe mandam matar, aceitando as exigências do Comandante com medo de ser morto, Agu reflete sobre o mundo e sobre si mesmo e sobre a guerra.
“Não sou um menino mau. Não sou um menino mau. Sou um soldado e o soldado que mata não é mau. Digo isso para mim mesmo porque os soldados têm que matar, matar, matar. Então se mato, só estou fazendo o que é certo. Fico cantando uma música para mim mesmo porque ouço muitas vozes na minha cabeça dizendo que sou um menino mau. Elas vêm de todos os lados, zumbindo no meu ouvido que nem mosquitos, e cada vez que ouço essas vozes, sinto meu coração ficar apertado e meu estômago embrulhado.”
A técnica do autor para fazer compreender a passagem do tempo aparece com uma forma estilística muito forte, e sempre como reflexão de Agu:
“O tempo passa. O tempo não passa. O dia vira noite. A noite vira dia. Como posso saber o que está acontecendo.{…] Como posso saber o que está acontecendo comigo?”
“É noite. É dia. Está claro. Está escuro. Está muito quente. Está muito frio. Está chovendo. Está fazendo muito sol. Está muito seco. Está muito úmido. Mas estamos lutando o tempo todo. As balas comem tudo, folhas, árvores, chão, pessoas – comem tudo – fazendo as pessoas sangrarem por todos os lados e o sangue tomar conta do mato.”
Espalhadas pela narrativa da caminhada e das lutas, das invasões e da fome, encontram-se aqui e ali outras narrativas, de mitos fundadores das culturas que compõem a Nigéria de então. Quase sempre remetem à fundação das cidades, à vingança dos espíritos. Ao mesmo tempo, a presença constante e intermitente da Bíblia! Agu é filho de professor, frequentava a escola e lia a Bíblia. Sua mãe era benquista pelo Pastor.
Quando os soldados se rebelam contra o Comandante e o matam, seguem pela estrada em busca de não se sabe o quê. Na caminhada, morre o melhor amigo de Agu, Strika, outro menino incorporado ao exército dos rebeldes e que se recusava a falar qualquer palavra, de modo que os outros achavam que fosse mudo. Somente na hora da morte fala com Agu, pedindo-lhe que não o deixe sozinho. E então Agu fica sabendo que Strika fala… O episódio é extremamente comovente.
Recolhido por uma missão católica na estrada que passou a percorrer sozinho, tendo já abandonado a arma que era obrigado a carregar, Agu volta a comer! E os missionários insistem para que peça perdão e para que conte o que lhe aconteceu. E o narrador não perdoa:
“Às vezes falo pra ela, não vou contar tudo porque vi muitas coisas horríveis demais para contar. Vi mais coisas horríveis do que dez mil homens e fiz mais coisas horríveis do que vint mil homens. Então, se eu contar todas essas coisas horríveis, ficarei muito triste e você também vai ficar muito triste porque existem muitas coisas horríveis nessa vida. E quero ser feliz. Só quero ser feliz.
Digo isso a ela, e ela só olhar para mim e vejo que está com o olho cheio d’água. Então digo a ela, se eu contar todas as coisas que fiz, você vai pensar que sou uma espécie de fera ou diabo. Amy nunca diz nada quando falo isso, mas a água em seus olhos brilha. E digo a ela, tudo bem. Sou todas essas coisas. Sou todas essas coisas, mas uma vez já tive uma mãe, e ela me amava.”
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