por João Wanderley Geraldi | Maio 31, 2016 | Blog
Cartomante
Ivan Lins
[…]
Já está escrito, já está previsto
Por todas as videntes, pelas cartomantes
Está tudo nas cartas, em todas as estrelas
no jogo dos búzios e nas profecias
Cai o rei de Espadas
Cai o rei de Ouros
Cai o rei de Paus
Cai, não fica nada.
por João Wanderley Geraldi | Maio 30, 2016 | Blog
O raciocínio de alguns economistas é muito estranho. Começam a aparecer com uma rapidez impressionante as consequências ou as heranças do período Joaquim Levy! Um período de triste memória, porque representou uma guinada na orientação da economia brasileira patrocinada pela presidente recém eleita com programa absolutamente diferente. Para agradar o mercado, buscou um dos assessores econômicos da candidatura contrária, cujo programa as urnas rejeitaram, elevou-o a ministro e deu-lhe carta branca para conduzir a economia e o ajuste.
Pois o ajuste produziu desemprego (claro que os índices de desemprego são sempre comparados aos índices obtidos pelas políticas do governo rejeitado, isto é, do PT, e ao aos índices dos tempos em que governava o neoliberalismo!). Ajuste produziu empobrecimento: quase um milhão de famílias desceram na escala das classes sociais, saindo do patamar a que subiram com as políticas do ‘abominável’ lulo-petismo. Ao mesmo tempo que chamam a estas políticas de erradas, esculhambam-nas (Serra, em 2008, governador de estado, dizia que “essa gente está fazendo tudo errado”, referindo-sde com “essa gente” aos economistas que dirigiam a Fazenda e o Planejamento e que orietnaram o enfretamento da crise provocada pelos banqueiros internacionais. “Essa gente” é uma expressão muito diplomática, coices que o elevaram a Chanceler!), estes economistas neoliberais querem aprofundar o emprego do mesmo remédio em nome de um ajuste que garanta o pagamento de juros a seus verdadeiros patrões, os bancos e os fundos de investimentos.
Pois o remédio adoeceu a sociedade brasileira. Como adoeceu e não matou, os ‘magos’ da economia aumentarão a dose, até matarem o paciente. Por isso o capitalismo financeiro, concentrador de renda, cada vez mais cava seu próprio túmulo. O inesquecível Cardel D. Helder Câmara disse um dia que “poderão os desvalidos fazerem de seus ossos armas”. E olha que naquele tempo tínhamos um capitalismo de produção. Com o capitalismo financeiro, não sabemos se sobrarão ossos!
Todos concordamos: o modo de enfrentamento da crise internacional de 2008, com a criação de um mercado consumidor interno, era uma saída justa e adequada para o momento. Acontece que as famílias não trocam todos os anos de carro, geladeira, etc – todos tidos com bens de consumo duráveis (ainda que no Brasil durem muito pouco!). Então um desenvolvimento puxado pelo consumo deveria ser um ciclo momentâneo. O primeiro governo Dilma tentou uma mudança de ciclo, com o projeto da “nova economia’, saindo do consumo para um ciclo de desenvolvimento baseado em investimentos públicos e privados.
Como Dilma não quis distribuir benesses em seu governo, única forma de alicerçar uma base sólida no corrupto parlamento brasileiro, corrupto desde sempre, tucutou com vara curta os inconformados com as derrotas eleitorais e com uma distribuição de renda que diminuia o fosso existente na desigualadade social. O grupo dos inconformados, os neoliberais de carteirinha procedentes do governo FHC e seu partido, e o grupo de parlamentares excluídos das benesses que sempre tiveram pela honestidade da presidente eleita, reuniram-se e aprofundaram as articulações d eum golpe que o primeiro grupo vinha costurando desde 2002.
O primeiro grupo, neoliberal e supostamente, mas só supostamente, limpinho, limpinho, enriquecido limpamente, transformados de professores universitários em grandes proprietários, queria o poder para aplicar maciçamento remédio até que o doente vire defunto; o segundo grupo queria continuar a prática de receber benesses sem serem incomodados por investigações de uma polícia federal e uma procuradoria pública tornada eficiente precisamente pelo ‘execrável’ lulo-petismo. Pois aplicaram o golpe, derrubaram uma presidente. E nem Rosa Weber, a ministra que aceitou a censura de opinião no país, pode negar, depois das últimas revelações, que se trata de um golpe. Os primeiros querem enriquecer limpinhamente, de cara bem escanhoada (Aécio Neves para mostrar seu luto ao perder as eleições, deixou a barba crescer. Terminado o luto, voltou ao redil dos limpinhos). Os segundos que enricaram menos limpinhamente querem um pacto para acabar com investigações.
Diga-se de passagem: não foram governos dos limpinhos nem dos interesseiros que permitiram investigações. Foi precisamente o governo do partido dito maior corrupto da história do país – e não estou dizendo que não houve desvios e erros de conduta – que investigações prosperaram com liberdade, sem procurador geral para engavetar e sem ministro do STF que julga apenas partidariamente. Aliás, os ministros indicados pelo ‘petismo’ agem com liberdade, inclusive contra lideranças do partido. Lembrem-se de Joaquim Barbosa, indicado por Lula para ministro. Votou como vota o Gilmar Mentes? Não. Todos sabem que não! E houve um golpe em nome do fim da corrupção, praticado precisamente pelos mais corruptos políticos da história brasileira!
E o golpe quer aplicar dose maciça do romédio que desemprega, empobrece, adoece e mata! Até o Mendonça de Barros, economista e ex-ministro do neoliberalismo tupiniquim está avisando: é preciso cautela!!! Quando o ex-professor universitário, hoje proprietário da Quest-Investimentos, Mendonça de Barros, pede cautela, é porque os neoliberais do governo estão indo com muita sede ao pote! Querem matar o paciente logo!!! Entre os apressadinhos, sobressai o coveiro mor do país, José Serra e sua política de alinhamento submissso à matriz.
por João Wanderley Geraldi | Maio 29, 2016 | Blog
Memória
O homem que soube calar
Juan Rulfo disse o que tinha para dizer em poucas páginas, puro osso e carne sem gordura, e depois guardou silêncio.
Em 1974, em Buenos Aires, Rulfo me disse que não tinha tempo para escrever como queria, por causa do trabalhão que tinha em seu emprego na administração pública. Para ter tempo precisava de uma licença e essa licença tinha de pedi-la aos médicos. E a gente não pode, me explicou Rulfo, ir ao médico e dizer: “Me sinto muito triste”, porque por essas coisas os médicos não dão licença.
(Eduardo Galeano. Dias e noites de amor e de guerra. p. 118)
(Dica das obras de Rulfo: Pedro Páramo; Chão de chamas; Galo de ouro – todos disponíveis na Estante Virtual)
Poesia
Diadia
Levantar bem cedo
e surpreender as palavras
antes que vistam
seu hábito.
Dormir bem tarde
e deixar – cansado –
que as palavras
me dispam
o costume.
(Jefferson Vasques. Nada com um dia após o outro)
por João Wanderley Geraldi | Maio 28, 2016 | Blog
A sociedade brasileira vive em sobressaltos: a cada momento uma nova revelação demonstrando que a política foi tomada de assalto pelo bandidistmo alimentado pelo desejo de poder e de manutenção no poder. Obviamente qualquer partido político deve lutar pelo poder. É para isso que ele existe. E ao se constituir, estabelece um conjunto de princípios que deveriam orientar sua luta pelo poder, princípios que oferece aos cidadãos na forma de programas de governo: a decdisão cabe à cidadania, nas urnas. Aos perdedores neste processo, caberia uma revisão de seus programas e até mesmo de seus princípios iniciais. Ao reafirmá-los em processos eleitorais posteriores, mostram quee não seguem simplesmente uma onda, mesmo que avalanche. Mantém sua orientação. Entre seus membros, aqueles que querem mudar as orientações, saem e fundam novos partidos. Entre nossos políticos atuais, certamente Marina Silva é o melhor exemplo do comportamento que segue uma onda, uma avalanche, um interesse momentâneo, e vai desfilando por partidose fundando outros…
Mas nossos sobressaltos não são apenas políticos. São também policiais, evolvem crimes abomináveis. Os estupros da jovem do Rio e da jovem do Piauí (que não mereceu as mesmas manchetes, afinal foi um estupro praticado por apenas cinco animais humanos do gênero masculino) jogam em nossa cara que algo de podre existe neste reino que não é a Dinamarca! Estes homens todos tiveram mães, tiveram pais. Conviveram com outros seres humanos. O que os leva a se tornarem macabros exibicionistas? Afinal, suas violências sexuais são assistidas pelos seus comparsas, para quem se mostram (um desejo recôndito de serem estuprados também?). Nossa socieade é machista? Sim. Desde sempre, aprofunda o que funda a civilização ocidental – homens mandam, homens lideram, homens fazem tudo o que querem. As mulheres, de que Madalena poderia ser um exemplo prototípico, são pecadoras (como se praticar sexo fosse pecado!). E quando os homens falham, em palavras mais próprias, brocham, as parceiras são bruxas e foram para as fogueiras; hoje vão para a execração pública, uma forma de estupro, como o praticado contra Dilma Roussef por uma maioria de homens liderados por um pretenso homem religioso, ligado ao pastor Malafaia, Eduardo Cunha, o poderoso.
Pois atos abomináveis como os estupros ocupam espaços nos jornais destes dias. Mas a secretaria das mulheres é um luxo para o governo produto de um golpe (me desuclpe a juíza do STF Rosa Weber, depois das últimas gravações, nem a senhora pode acreditar que não foi golpe motivado por interesses bem específicos). Numa sociedade machista, de ministros interinos machos e brancos, nada mais significativo que os estupros tenham ocorrido neste momento da política nacional: o dedo da justiça divina nem tardou!
Mas há uma vantagem com o golpe que afastou Dilma Roussef. Digo isso, porque estamos livres, de matérias como:
1. Segundo delator Fulano de Tal, em delação premiada, os estupradores do Rio são petralhas e foram flagrados nas manifestações contra o impeachment.
2. Dilma é culpa dos estupros.
3. O estupro do Piauí foi encomentado pela direção do PT para desviar a atenção pública dos escabrosos escândalos na Petrobrás.
4. Segundo o delator Sicrano de Tal, Lula fazia parte da quadrilha dos estupradores.
5. Os estupros foram combinados no sítio de Atibaia, num passeio em pedalinhos comprados com dinheiro desviado da Petrobrás.
6. Os estupradores fugiram para o triplex de Guarujá, de propriedade da família de Lula.
Felizmente estamos a salvo destas matérias jornalísticas ‘bem fundamentadas’ no O Globo, na VEJA, na Época, na Isto é, no JN da Globo, no Jornal da Noite da Globo, etc etc. Graças ao golpe praticado pelos “elaboradores de uma presidência”, ou seja, do exercício do poder mesmo quando a sociedade recusou seu programa de governo e os princípios que norteiam sua associação partidária.
E tenhamos memórias: os Irmãos Metralha, em cuja ‘homenagem’ a imprensa criou o neologismo ‘petralhas’, jamais conseguiram a Moeda Número 1 do Tio Patinhas. Esta moeda sempre esteve muito bem guardada nos cofres do PSDB porque ela é a moeda da sorte: não há tremsalão; todos conhecem o esquema do Aécio, menos o Gilmer Mentes que se recusa a abrir investigação; todos sabem que há desvio da verba da merenda em São Paulo, menos a PF; todos sabem que que houve privataria conduzida por José Serra; todos sabem que depois das privatizações, ex-ministros limpinhos, limpinhos, deixaram de ser professores univesitários… Por que toda esta sorte? A sorte de cair com Gilmar Mentes os processos de líderes de seu partido? É a Moeda n. 1… A verdadeira moeda.
Hoje é sábado… dia de folga. Para lutar é preciso abandonar a tristeza. Homens tristes são mais facilmente tornados escravos, como ensino Spinosa.
por João Wanderley Geraldi | Maio 27, 2016 | Blog
Se há alguma novidade entre nós, ela fica por conta dos estudantes. Seu movimento de ocupação de escolas, iniciado em São Paulo, e depois espraiado a quase todos os estados, mostra que se tratam sempre de ocupações com foco específico em alguma das políticas educacionais postas em andamento pelos respectivos estados.
Para além das vitórias dos diferentes movimentos, há algo que sobrará definitivamente para a sociedade brasileira: a emergência de novas lideranças num ambiente totalmente contaminado da política. Estes jovens que vem chegando serão políticos no futuro? É possível. Serra, por exemplo, vem das hostes estudantis, mas ambicioso até a medula, traiu o que pensava em busca de cargos políticos.Abandonou descaradamente profissões de fé, desde que tais abandonos lhe valessem qualquer mínimo degrau na escalada do poder. Não é, portanto, garantia que lideranças forjadas na luta estudantil venham a ser lideranças que defendam o Estado no futuro próximo. Como Serra, poderão virar casaca e passarem a defender governos, onde se exerce o poder, e não o ambiente de construção social de que o Estado é um instrumento enquanto não chegarmos a outro num futuro imprevisível.
Mesmo assim, só merecem elogios as ocupações e a generosidade desta juventude que está ensinando, neste momento, que para além da economia, no sentido de pão-durismo e acumulação de superávites para transferir recursos para os banqueiros, que em verdade não têm o menor interesse em receber o que lhes devem os Estados, mas somente receber os populdos juros que já pagaram a dívida, os estudantes enxergam a vida vivida por eles mesmos, por seus pais, pelo seu entorno. Há vida para além da economia financeira. Ainda todos se alimentam, ainda todos caminham, ainda todos querem ser felizes. Mas os bancos não deixam, os economistas de governos lhes servem. Não defendem o Estado no seu sentido de instrumento de construção de uma sociedade mais justa, mais equânime, mais feliz. Defendem governos que defendem interesses de bancos.
Talvez o exemplo nacional mais típico de um governo de estado que não defende o Estado e sua população é aquele que existe há anos em São Paulo. Enfrentado pelas ocupações estudantis, eis que o governador se mostrando sensível ao prejuízo que causaria a mais de 300 mil estudantes, suspende a reorganização escolar, troca de secretário e faz o jogo de cena de que passou a defender o Estado enquanto governo.
Como se sabe, nestes anos todos de política neoliberal em São Paulo, já não resta o que vender. O patrimônio público estadual já se foi todo. Para um político no executivo, se sua linha de pensamento é neoliberal, trata-se de vender, vender para fechar contas. Quando não há mais o que vender (Alkmin se queixou quando sucedeu a Serra de que não sobrara nada para vender), o que faz um guarda-livros para fazer bater crédito e débito? Como os governos neoliberais não são constituídos por administradores, mas por guarda-livros e estes não tendo mais o que vender, reduzem a ação do Estado, mesmo que isso venha a prejudicar sua população.
É o que faz Geraldo Alkmin, ai de mim, em São Paulo. Faz o jogo de cena na negociação com os estudantes, não fecha diretamente as quase 100 escolas que pretendia fechar – possivelmente para vender os prédios, falta fazer um estudo das localizações das escolas a serem fechadas para ver se não era o interesse imobiliário que movia o projeto – mass proíbe matrículas nas séries de ingresso no ensino público estadual. Em 158 escolas do estado governado pelo neoliberalismo há tantos anos, não houve, não haverá matrícula nas séries de entrada: nos anos inciais (1o. e 2o. anos), no 6o. ano (muito antigamente este ano representaria a passagem do primário para o ginásio), e no 1o. ano do ensino médio.
Geraldo Alkmin negocia, se mostra democrático, ouve os estudantes… tudo jogo de cena. Fecha turmas, não permite ingresso na rede estadual, e com isso vai fechando as escolas que quer e que poderão ser em maior número do que aquele divulgado pelo projeto de reorganização escolar, supostamente adiado para 2017.
E a juíza Carmen Oliveira, da 5a. Vara da FAzendo Pública, questiona a proibição de ingresso, e uma procuradora do estado, que não defende o Estado, mas o governo do estado, seja ele qual for – ao contrário por exemplo da tão elogiada Força Tarefa da Lava Jato que estaria defendendo o Estado e não o governo, mas que peca por perseguição partidária. A procurfado do estado de São Paulo, defensora do governo do estado de São Paulo, defende que todos os casos de não ingresso “são excepcionais”, ou seja, não respondem a uma política de diminuição da ação do estado na área da educação.
Ora, como sabemos, para o pensamento neoliberal, educação e saúde são bens. E bens tem quem os pode comprar! Este o modelo da matriz, este é o projeto do neoliberalismo tupininiquim, medíocre como projeção de futuro. O problema é que está encontrando resistência, resistência que vem do âmago dos princípios mais profundos da sociedade brasileira, a de que há direitos e que direitos não são bens a serem postos no mercado para a venda e compra.
Felizmente, num estado que não conta com uma procuradoria estadual que defenda o Estado, já que ela só defende o governo (age assim neste caso das escolas, age assim no caso do tremsalão, age assim contra qualquer oposição, etc etc.) resta ainda a o Ministério Público de Contas, único espaço em que a defesa do Estado ainda persiste, insiste, resiste. Por quanto tempo?
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