por João Wanderley Geraldi | mar 30, 2016 | Blog
Uma fábula edificante.
Estavam os ratos muito bem alimentados, com inúmeros queijos a sua disposição nos porões do navio. E o navio navegava, triunfante sobre as águas do Oceano. Estavam todos felizes, ratos e não ratos, num convívio segundo a distribuição dos espaços e dos comes e bebes. Em paz e conciliados. Era um navio de conciliação, de paz e de amor. Interesses conflitantes que apareciam vez por outra, era imediatamente apaziguados com o aumento da ração, para os ratos; dos poderes e espaços para os tripulantes superiores; de comes e bebes para os tripulantes inferiores, às vezes à farta, às vezes mais moderadamente. E todos iam à despensa e abasteciam-se e nunca deixaram de se abastecer, até para repor forças para caminhadas longas, carregando alguns algum peso!
Mas um dia… sempre há um dia! O mar se revoltou. Não queria mais sustentar o peso do navio. E as ondas, bem orientadas pelo mar, começaram a avançar sobre o navio. E navio soçobrou. Capitão e oficiais davam ordens conflitantes, abagaçados. Cada um a sua maneira queria salvar o navio e sua própria pele. E o navio soçobrava. E as ondas aumentavam, parecia que vinham até do exterior do mar, pelos ventos do norte e elevavam as ondas sem discrição alguma. O vento ajudado pela força das águas locais, isto é, próximas ao navio, forçavam para que o navio adernasse.
E os tripulantes superiores viram com horror que os ratos abandovam os navios. Seguindo a sabedoria milenar, “os ratos são os primeiros a abandonar o navio”. Os tripulantes mais inferiores, incitados por alguns superiores, tomaram o convés aos gritos e aos reclamos. Os comes e bebes já não faziam mais efeito salutar. Queriam a mudança do capitão para entregar o navio à sabedoria dos ratos mais gordos, mais sábios, aquelas ratazanas mais velhas e mais experimentadas.
E os ratos mesmo, aqueles bem ratos, por aclamação e sem reclamação, se foram para as águas revoltas do mar.
E o mar se acalmou. Tomou rumo certo. Os tripulantes inferiores voltaram a seu redil, isto é, aos seus comes e bebes. E os superiores, mais experientes agora, decidiram que não bastava comes e bebes, era preciso repensar o destino e rever os horizontes, distribuindo também poderes e espaços de forma mais adequada.
Mas a curiosidade ficou: que aconteceu com os ratos no mar ainda revolto? Aqueles que abandonaram o navio terão forças para voltar a ele a nado? Ou teram sucumbido na boca aberta dos tubarões, engolidos e deglutidos? Ou simplesmente morrem afogados os ratos que primeiro abandonam o navio? Ah! Isto o ditado não explica. Só diz que eles são os primeiros a abandonar o navio. O que lhes ocorre nas águas a que se lançam, a gente não sabe. O mais provável é que não sobrevivam, e aqueles que por acaso sobreviverem, tentarão desesperadamente retornar aos bons tempos dos seus queijos. Alguns delcídios abandonam o navio e depois são recebidos de volta, por pura ingenuidade, e estes delcídios voltam a comer bons queijos. Mas são poucos os assim sortudos. E não podemos afirmar com certeza o que acontece com a maioria dos ratos fujões.
por João Wanderley Geraldi | mar 26, 2016 | Blog
Recebo hoje uma péssima notícia de ontem: faleceu Clodomir Morais, sociólogo especialista na questão camponesa, um dos líderes das Ligas Camponesas de Pernambuco. Deputado federal cassado pela ditadura militar, no exílio tornou-se assessor da ONU para assuntos agrários, tendo feito trabalho em vários países da América Latina e da Europa. Com doutorado em Berlim, foi professor visitante da Universidade onde se doutorou, e também professor da universidade de Rostock (Alemanha Oriental). Publicou muitos livros. Mas conheço somente seus livros de ficção: Contos Verossímeism, em edição de 1994 da Casa da Cultura “Antonio Lisboa de Morais”, de Santa Maria da Vitória, Bahia, terra natal de Clodomir. Os quatro contos destes dois volumes foram escritos em 1964 na Casa de Detenção de Recife ou na Prisão do Quartel do Regimento de Obuses (Olinda). Publicados somente 30 anos depois. O conto “Mestre Ambrósio” foi publicado também pela Editora da UNIR, Universidade Federal de Rondônia, na coleção Primeira Versão. Na leitura de seus contos, a gente se sente nas “gerais” de Guimarães Rosa. Para meus leitores, um pocadim de Clodomir Morais:
“Sol-entrando, sol sem vento. Bandeija de outro e sangue, gema de ovo grande minguando, de pedacim em pedacim, uma banda toda, na linha do infinito.
Sol-entrando no sossego das aves e na cantoria das cigarras tristes e dos grilos que não param mais. O céu é uma asa de arara sem tamanho, com pena amarela, vermelha, azul, verde e cor-sem-nome, que a Natureza pinta sem tinta de raiz e nem brocha de canela-de-ema. As cigarras cantam pouco tempo. Os grilos é que botam sentinela, chorando só e de magote, a noite toda, medo do sol não voltar mais.
Nas cumieiras das matas os buritis solteiros se espinham dando adeus ao sol e as carnaúbas ajeitam os cabelos como mulher que se prepara pra dormir com o mormaço.
Sol-entrando, tristeza gostosa de quem quer divulgar longe. Distante mesmo. Mil léguas sem rumo, de saudade entrançada de três cordas: dor, alegria e desejo contrariado.
Sol-entrando, o gerais é um ninho só, onde tudo vai dormir e cochichar namoro.
Sol-entrando, tudo é mais longe pras vistas e para o pensamento. A gente se sente só de saudade, peito apertado e com vontade de ir também com o sol pro fim do mundo, pra lá dos gerais, pra lá da terra, nas cabeceiras dos rios.” (“Causos” de Sentinela”)
por João Wanderley Geraldi | mar 26, 2016 | Blog
Examinar as fotografias de políticos que ilustram as matérias dos grandes jornalões é sempre muito interessante, porque elas nos dizem muito frequentemente o que não se diz no texto ou não se pode dizer no texto. Como se sabe, nelas o órgão de imprensa manifesta suas posições, ou algum jornalista arrisca fazer passar suas opiniões mesmo que contrárias à direção do jornal: é um risco e o jornalista neste caso canta com Chico Buarque “vai passar…”.
Mais ou menos há uma quinzena que as fotos publicadas de Michel Temer são sempre muito boas, com um enfoque adequado a torná-lo um político confiável, simpático, até com um sorriso responsável. Deixou de se apresentado como um rato com que se parece. De desfavorável, passou-se a opinar favoravelmente, elevando Michel Temer a político apto para as funções que lhe reservam no pós-impeachment (que haverá ou se não houver agora, outros pedidos entrarão e a todos o nosso Eduardo Cunha dará prosseguimento, numa sequência sem fim). Ou então ele dançará por serviços prestados por Gilmar Mentes no STF, cassando a chapa Dilma-Temer.
Mas não gostei e fiquei preocupadíssimo com a foto do nosso juiz Sérgio Moro, publicada ontem (25.03.2016). Num ângulo que não lhe faz juz, em pose à Gilmar Mentes, fazendo biquinho muito inadequado e feio. Fiquei imaginando o que estará querendo nos dizer o Estadão! Um dos sentidos possíveis: uma homenagem de Sérgio Moro a Gilmar Mentes. Ora, Sérgio Moro é maior e muito melhor que Gilmar Mentes. Por que ele iria estar homenageando quem lhe é inferior e a quem faz recomendações de como deve agir, quando faz recomendações a todos os membros do STF para que ouçam diretamente os delatores? Descarto este sentido. Poderia ser uma homenagem ao Farol de Alexandria, nosso estadista de Higienópolis, Fernando Henrique Cardoso? Talvez. Mas poderia o Estadão estar informando subrepticiamente as afiliações partidárias do nosso querido juiz? Também um talvez. Mas esta seria uma informação desnecessária, redundante e até mesmo prejudicial às concepções de imparcialidade com que se comporta em sua Vara!
Fica outra interpretação bastante provável e que me preocupou e de que não gostei: o Estadão começou a descartar o juiz de Curitiba, porque sua tarefa já teria cumprido seus ideais. No pós-Dilma há que encerrar a Lava Jato, depois de preso indefinidamente Lula da Silva e talvez Dilma Roussef, mas a prisão desta não me parece estar no horizonte dos desejos secretos da grande imprensa brasileira.
Estou preocupadíssimo e preciso acompanhar as próximas fotos de Sérgio Moro para tentar entender o nosso mais confiável e sério jornal impresso, O Estado de S. Paulo, por suas posições democráticas, pela pluralidade enorme de pontos de vista em suas matérias, pela singeleza e correção de sua linguagem. A ver e a conferir nos próximos 60 dias.
por João Wanderley Geraldi | mar 23, 2016 | Blog
Depois de tomar conhecimento do caso das cinco mães que carregavam seu filhos ainda bebês e foram apedrejadas ou ameaçadas de morte; depois de saber que durante toda a noite passada na casa do minstro Teori, do STF, não se pôde dormir em função de manifestação barulhenta e de repúdio ao ministro porque se arriscou a formular um pedido de explicações de um juiz de primeira instância que não cumpriu a lei; sabendo que estes fatos estarrecedores são patrocinados pela chusma daqueles que se julgam acima da lei porque se manifestam contra o governo e a favor do impeachment da presidente Dilma Roussef,
mesmo estando muitíssimo aquém da estatura de Émile Zola, que admiro,
EU ACUSO
– AQUELES que se conduziram mal no exercício de suas funções públicas, desviando recursos para si ou para seus partidos, incluídos aqui todos os partidos e não somente o PT, que neste aspecto merece nosso repúdio por repetir a prática secular de corrupção no país quando se elegeu sob a égide da ética e da responsabilidade social;
– a REDE GLOBO de televisão por manipular todas as informações a fim de criar um clima de revolta, mesmo que justificada a indignação civil face a desvios ocorridos nos sucessivos governos brasileiros, desde que há governo neste país, para os quais no passado sempre fez vista grossa, quando não se beneficiou delas, como aconteceu durante o governo militar;
– o editor da revista ÉPOCA, do grupo Globo, por incitar a violência através de seu Twitter;
– o Sr. BONNER por produzir um jornal televisivo extremamente tendencioso;
– os DELEGADOS responosáveis pela investigação na operação LAVA JATO, em todas as suas fases, por se comportarem tendenciosamente e por deixarem vazer informações confidenciais;
– os PROCURADORES da Lava Jato, por desvio político de suas funções ao desmerecerem acusações contra políticos que não sejam do PT;
– a POLÍCIA MILITAR pelo ato de vandalismo praticado na PUC-SP, que passivamente assistiu a violência de manifestantes contra o governo que não permitiram o regular funcionamento da atividade de ensino na universidade, mas que depois destes manifestantes terem se retirado, agrediu gratuitamente alunos e professores da universidade que sairam para os corredores e escadarias, manifestando-se contra o impeachment;
– o senador AÉCIO NEVES, do PSDB, por se recusar a reconhecer sua derrota eleitoral e produzir no país um clima de violência jamais visto; tudo porque sendo um filhinho de papai está ressentido com a população por não o terem escolhido para presidente da república;
– os DELATORES da operação Lava Jato por interesse mesquinho de diminuir suas penas como criminosos que são, selecionando as informações que prestam – haja visto que fazem inúmeros depoimentos consecutivos porque não informaram antes o que já sabiam – segundo o interesse de escuta de seus interrogadores e não segundo os fatos de que têm conhecimento;
– o juiz SÉRGIO MORO por se achar acima da lei, pois prepotentemente define o que segundo ele próprio é de interesse público – o que é típico de uma atitude fascista em que quem julga faz a lei segundo sua conveniência e segundo seu próprio discernimento, conduzindo os processos sob sua alçada de forma política e não jurídica;
– os FASCISTAS e NEONAZISTAS que paticipando de legítimas manifestações contra o governo e a corrupção, erigem líderes de extrema direita como seus mentores, transformando-se em violentos apedrejadores e ameaçadores de pessoas inocentes, pelo simples fato de estarem usando uma blusa vermelha ou o bebê estar usando uma roupa da Minie, vermelho e preta;
– a TODOS AQUELES que usam as redes sociais incitando o ódio, a violência e o desrespeito ao mínimo de cidadania e convivência social.
EU CONCLAMO
– aqueles que de boa fé manifestam-se contra a corrupção para que assumam que estão junto com fascistas e neonazistas e que por isso estão contribuindo não para um processo de “limpeza do Brasil” como alegam, mas para a emergência de um sistema de repressão que sequer a ditadura militar que vivemos sonhou em realizar, porque se trata de repressão e violência não exercida pela polícia ou por militares com arremedo de juridismo, mas exercida por pessoas do povo, convencidas e alucinadas de que são salvadores da pátria pelo apoio que têm da PM, da PF, de procuradores e de políticos.
e EU CONVIDO
a TODOS os intelectuais: escritores, artistas, pesquisadores, quaisquer que sejam os seus credos políticos, a escreverem suas peças de ACUSAÇÃO para que cheguemos ao fim da VIOLÊNCIA que começa a se apresentar em nossas ruas e em nossos lares através da TV e das redes sociais.
por João Wanderley Geraldi | mar 20, 2016 | Blog
Como todos sabemos, os programas informativos da Rede Globo sempre trazem análises de fatos políticos ou econômicos ou sociais proferidos por pessoas extremamente preparadas, especialistas. Às vezes trazem a palavra de políticos experientes, de renome. Entre estes políticos até pouco tempo estava o Senador Álvaro Dias, do Paraná.
De repente Álvaro Dias desaparece dos noticiários, não comenta mais nada, não é chamado a comentar… Terá ele se tornado uma pessoa incompetente, incapaz de análise? Ou será porque deixou o partido da rede global, para se filiar a outro partido menor? Mas se for este o caso, então já temos que suspeitar dos sujeitos falantes nos noticiários da Globo! Será mesmo que o Sardenberg é competente? Aliás, outro competentíssimo que desapareceu foi José Serra. Que terá acontecido?
Na outra frente, aquela do judiciário há um fato espantoso: todos aqueles que querem “a mudança”, confiam no vingador Sérgio Moro. Ele decretou prisões preventivas de muita gente, que logo após terminada a investigação, foram condenadas a duras penas. Isto mostra que ele obrou bem ao decretar tais prisões preventivas (os que reclamam não entendem do assunto). Então é um juiz confiável. Estará ele obrando mal porque ainda não decretou a prisão preventiva de Lula? Obviamente, ele sempre decretou prisão preventiva com base em provas já robustas apresentadas pela investigação. Não terá ele hoje provas robustas? Ou está sendo inapetente? Se as redes sociais já apontaram inúmeras propriedades do Lula, compradas com dinheiro da corrupção para membros de sua família, só os delegados, procuradores e Sérgio Moro não sabem? Estou começando a desconfiar que eles não querem mesmo acabar com a corrupção!!! Que pena! O povão que desfilou na Av. Paulista pedindo impeachmente e saudando seu novo heroi deve estar um tanto decepcionado… Que lástima! Aja, Sérgio Moro, do contrário o senhor irá para o ostracismo para o qual correu outro salvador da pátria, Joaquim Barbosa!!! E Aí você perderá também sua candidatura à Presidência!!! Lástima sobre lástima.
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