por João Wanderley Geraldi | jan 26, 2016 | Blog
Faço uso de remédios de uso contínuo. Alguns deles eu poderia obter nas farmácias populares, mas tenho vergonha na cara: considero que os remédios subsidiados pelo governo destinam-se àqueles que não podem pagar, embora saiba que são precisamente os mais ricos que mais usam das facilidades proporcionadas pelas políticas públicas de assistência de um governo que eles combatem! Conheço pessoas com carrões importados na garagem que correm ao posto de saúde ou às farmácias populares para não terem que pagar seus próprios remédios.
Com o uso contínuo dos mesmos remédios, tenho comprado dentro das promoções das farmácias: em lugar de comprar uma caixa por um valor como R$ 50,00, compro três caixas por aproximadamente R$ 80,00! É promoção. Fico pensando naqueles que tem dinheiro contado e que só podem comprar uma caixa por vez! Pagarão caro pelo que é barato para a farmácia, porque em sã consciência ninguém acredita que uma farmácia que está vendendo com altos descontos está tendo prejuízo.
Há poucos dias, amigo meu, que está sempre me dando assistência nos problemas com o computador, me contou uma história! Ele estava com problema, e comprou numa farmácia uma cartela de comprimidos. O preço era R$ 28,00, mas com o desconto ele pagou um pouco mais do que R$ 23,00. Em sua loja de material de computação, recebe outro amigo que é vendedor da indústria farmacêutica que produz precisamente o remédio que acabara de comprar. O amigo lhe pergunta quanto pagou, e ele deu a informação. Perguntado quanto ele imaginava que a farmácia havia pago pela cartela de comprimidos, arriscou: uns R$ 15,00. O vendedor achou graça! A farmácia pagou por cada cartela deste remédio apenas R$ 1,80 porque se trata de uma rede e compra em grande quantidade, por isso teve um desconto, pois o preço normal do laboratório é de R$ 2,20. Ou seja, para um custo de R$ 1,80, um preço de venda com desconto de R$ 23,00!!!!!! É mais do que multiplicar por dez… Talvez esta seja a razão da existência de tantas farmácias neste país: uma em cada esquina! Nada é mais lucrativo do que este comércio da doença!
Moral da história: as farmácias não vendem, roubam. Porque roubam muito nos preços, podem oferecer descontos de 50%, 70%, 80% e às vezes até 90%!!!! Uma enganação enorme. Isto é o mercado, dirão os economistas bem postos… Isto não é comércio nem mercado, chama-se de abuso econômico. Mas para estes abusos não há lei a ser aplicada, nem policia fazendária, nem multa, nada, nadinha de nada!
por João Wanderley Geraldi | jan 25, 2016 | Blog
Nestas férias que me dei, um paradoxo para aposentados, enfrentei as 2.853 páginas da Trilogia do Século (Queda de Gigantes, Inverno no Mundo e Eternidade por um Fio) de Ken Follet. Minha amiga Cecília Collares me emprestou os três grossos volumes e diligentemente enfrentei suas páginas, acompanhando as histórias das famílias Fitzherbert (ingleses), Von Ulrich (alemães), Peshkov (russos), Dewar e Vyalov (norte-americanos), que circulam e contatam com outras personagens que constituem o mundo em que vivem. O pano de fundo são a Primeira Grande Guerra, a Segunda Grande Guerra e a Guerra Fria, até a queda do muro de Berlim. Obviamente, com o surgimento das duas Alemanhas no pós-guerra, havia necessidade de incluir mais um país no jogo: para o mundo democrático fogem filhos da família von Ulrich para dar conta de outro ambiente no complexo mundo pós-guerra.
Trata-se de uma leitura interessante. Ken Follet sabe conduzir as diferentes histórias, fazer cruzamentos mais ou menos previsíveis para que o enredo da história do século possa aparecer como ambiente de vida das personagens. Aprende-se um pouco sobre este tempo conturbado, particularmente pela recriação de um cotidiano ficcional, mas fundando em possibilidades reais, de uma vida que se esvai no tempo, ainda que personagens como o velho conde Fitzherbert e sua irmã Maud atravessem os tempos das guerras e chegam a viver a guerra fria. Há um tom mais ou menos anti-soviético, como era de se esperar. Afinal, a história do socialismo real não é bonita como não é bonita a história da emergência e imposição do império norte-americano, que ainda permanece e cria guerras num mundo considerado como um campo de batalha.
Para me ‘redimir’, li ao mesmo tempo “Guerras Sujas” de Jeremy Scahill para me decepcionar com Barack “bin-laden’ Obama: o presidente que multiplou os ataques com drones, em assassinatos dirigidos. Obama manteve na luta contra o terrorismo o mesmo terror de seu antecessor, o republicano Bush. Diminuiu as forças terrestres no Iraque (um jogo de cena) para tornar campo de batalha o Iêmen, a Somália, o Paquistão enquanto havia guerra declarada somente contra o Afeganistão. O jornalista denuncia inúmeros crimes de guerra praticados pelas forças norte-americanas, com autorização dos presidentes Bush e Obama. Aliás, a crer no jornalista, Obama preside todas as terças-feiras o que chama de Terça do Horror, em que se define a lista dos assassináveis pelas forças norte-americanas, numa listagem de terroristas que não tem fim para alegria dos falcões… Uma conclusão óbvia, já apontada por soldados que combateram no Iraque: “fomos convocados para combater os terroristas, mas os terroristas somos nós”. A resposta do mundo islâmico à teoria de que “o mundo é um campo de batalha” para as forças norte-americanas, está aí: um estado islâmico, terrorista em ataques suicidas e quase individuais pelo mundo. Ao terror responde-se com terror. Os interesses das corporações norte-americanas que levaram a CIA a financiar a chamada “primavera árabe”, história de contos de fadas que a imprensa mundial engoliu e espalhou, produziram mais conflitos porque se quer impor a própria cultura política a uma cultura totalmente diferente, com a qual o império não sabe conviver e jamais conviverá, até que haja a queda de ambos os lados para que raia uma amanhecer para a humanidade.
por João Wanderley Geraldi | jan 20, 2016 | Blog
O ano promete muito no ambiente conturbado da nossa política. Não será um ano feijão com arroz, mas mais um ano de sobressaltos. Quem vencerá nesta guerra de egos entre Aécio, Serra, Alkmin, Marina Silva e o desconjuntado PT sob a batuta de uma Dilma cada dia mais enfraquecida?
Marina Silva vem a público dizer que é contra o impeachment de Dilma via Congresso, mas quer a cassação da chapa Dilma/Temer no TSE, onde o juiz Gilmar Mentes definirá por inspiração divina o que foi dinheiro limpo e o que foi dinheiro sujo nas doações de campanha das empreiteiras que estão nas garras de Sérgio Moro.
FHC diz que o impeachment ficou difícil sob a batuta de seu recentemente aliado e apaniguado Eduardo Cunha, que será por seu turno “impichado” pelo STF… Ao mesmo tempo dá umas farpadas em Álvaro Dias que deixou o PSDB, de que foi porta-voz, indo para o PV para ser candidato à presidência, em 2015 ou 2018, quem saberá ?
a PF por seu turno promete uma operação que certamente morrerá no ninho, a Operação Sangue Negro, que investigará os meandros da corrupção na Petrobras nos anos 1990, já denunciada por Paulo Francis antes de morrer, com informa Moisés Mendes em sua coluna da Zro Hora de Pirto Alegre… Severó já tinha dito que começou sua rapina em 1997, mas falou para o comitê de campanha do Aécio, os procuradores de Curitiba, e por lá denúncias que envolvam governos puros não são investigadas: os delatores só falam a verdade quando se referem a certo período, em relação a outros períodos são extremamente mentirosos… Resta saber se o MP colaborará com a PF na Operação Sangue Negro, ou não permitirá que seus delatores falem fora do ambiente do comitê eleitoral do Aécio Neves… Minha opinião: a PF está só desconversando…
Por fim, resta saber se Collor será sacrificado definitivamente… Se Marina Silva continuará rasgando sua história e será candidata a vice na chapa com Aécio ou concorrerá com cabeça de chapa, com apoio do Malafaia…
Enquanto isso, Pedro Bial volta a enojar o país com seus heróis da pátria amada gentil…
por João Wanderley Geraldi | jan 17, 2016 | Blog
Durante o longo período de implementação do neoliberalismo à Fernando Henrique Cardoso e seus impolutos saqueadores, fomos bombardeados com o discurso da eficiência da empresa privada, uma justificativa para a venda do patrimônio público a preços de banana em avaliações baixíssimas para que se trombeteasse na midia os supostos ágios obtidos nos vem sucedidos leilões, alguns deles conduzidos sob o martelo do coveiro me do país, o hoje enriquecido José Serra.
Pois agora estamos colhendo os frutos desta eficiência, a preocupação primária com a produção de dividendos para os acionistas da bolsa de New York. A SABESP distribuindo dividendos a acionistas, quando deveria estar distribuindo água aos paulistanos. E não se diga que a crise de abastecimento de água não tivesse sido cantada com quase dez anos de antecedência pelos consultores técnicos. O drama de Mariana e a lama da Samarco comprovam mais uma vez a eficiência na produção de dividendos. Avisada com um ano de antecedência de perigo de rompimento da barragem, economizou custos aumentando lucros, única eficiência que interessa aos políticos neoliberais. Os custos sociais ficam por conta do povinho… Dizem enderecem que a telefonia melhorou… Quem não tem queixas das operadoras de seus telefones, dos seus celulares, da sua internet, da TV a cabo? as reclamações são constantes, mas a decantada eficiência continua a ser apregoada aos quatro ventos, mesmo por aqueles que reclamam dos péssimos serviços destas operadoras extremamente lucrativas: pagamos o mais alto preço do mundo pelos serviços prestados na área…
Engraçado que a mídia oficial do neoliberalismo não comenta nada sobre eficiência… Ninguém diz uma palavra sobre os verdadeiros interesses da Vale privatizada associada aos interesses da BHP. Os acionistas terão agora um prejuízo na queda do valor das ações, mas esta queda é apresentada como consequência dos desmandos do governo petista, com estas custosas políticas públicas beneficiando quem não merece, os mais pobres que não movimentam o mundo financeiro, só trabalham para sustento seu e dos ricos que dependem crucialmente do trabalho dos assalariados que movimentam suas máquinas, suam em suas lavouras e montam seus cavalos nos campos das fazendas de gado.
por João Wanderley Geraldi | jan 16, 2016 | Blog
Eis que leio uma interpretação evolutiva que fundamenta o pensamento abutre na sociedade contemporânea (num exemplar de livro emprestado, com esta passagem devidamente destacada porque é um princípio de conduta social):
“CérebroS são socialmente exitosos quando vencem músculos. As relações podem mudar diariamente entre primatas que vivem em agrupamentos grandes, como chimpanzés ou babuínos. Coalizões flexíveis em que dois ou mais membros do grupo se unem para atacar outro membro permitem que animais pequenos ou com baixo status individual compitam com sucesso pelo acesso a recursos e parceiros sexuais. É difícil administrar coalizões porque os indivíduos competem pelos melhores aliados, e qualquer aliado de hoje pode ser um rival ananhã. Os indivíduos devem reavaliar constantemente a disposição, o estado de espírito e as estratégias uns dos outros, e alterar seu próprio comportamento de acordo com isso. Animais inteligentes podem também ser enganosos, escondendo deliberadamente seus sentimentos, com expressões faciais mascaradoras, ou gritando para fingir que foram atacados, quando seu motivo real é arregimentar partidários para enxotar um indivíduo dominante na proximidade da comida. O resultado é um melodrama de afetos em perenw transformação, alianças e hostilidades, é uma constante pressão para levar a melhor sobre os outros.”
(Richard Wrangham. Pegando fogo. Por que cozinhar nos tornou humanos. RJ : Zahar Editores, 2010, p.86-87)
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