Uma e outro defronte jazem

Uma e outro defronte jazem

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Estamos em Alcobaça mais uma vez. A cidade é conhecida por causa de seu mosteiro. Foi na Igreja do mosteiro que se reuniu em meados de 1300 a corte portuguesa, por ordem de D.Pedro I, para beijar a mão de Inês de Castro, vestida de rainha depois de o corpo ser exumado. Nesta igreja estão suas tumbas, um defronte ao outro, já que a primeira visão que queria ter D.Pedro, ao soarem as trombetas do Juízo Final, era sua amada, na ressurreição da carne. Por isso a cidade também se chama de “cidade da paixão”.

Tumba

Há lendas muitas sobre a fundação do convento. Afonso Henriques teria feito a promessa de o fazer construir durante o cerco a Santarém se saísse vitorioso. S. Bernardo, informado pelo céu da promessa, já anunciara a seus monges sobre a fundação do novo mosteiro, antes mesmo de se encontrar com o rei. Enviou o santo cinco monges cistercienses que se responsabilizaram pelas primeiras construções, nos inícios do Século XIII.

tumba 2

Hoje, as tumbas frente a frente são o testemunho da paixão, de um amor desesperado que não se realiza por intervenção paterna que manda assassinar Inês de Castro. Subindo ao trono, o filho e amante determina que os assassinos fossem mortos retirando seus corações pelas costas… Violência respondida por violência, num contexto de paixões e amores.

(As fotos são de Corinta Geraldi)

 

Para além do visível

“Aprendi a ver mais longe que a sola destes sapatos, aprendi que, por detrás desta vida desgraçada que os homens levam, há um grande ideal, uma grande esperança. Aprendi que a vida de cada um de nós deve ser orientada por essa esperança e por este ideal. E que se há gente que não sente assim, é porque morreu antes de nascer…”. José Saramago, na voz do sapateiro Silvestre. Claraboia. S.Paulo: Cia. das Letras, 2011, p.206

Financiamento às Câmaras

Há necessidade urgente de o FMI abrir uma linha de créditos a empresários profundamente neoliberais, isto é, aqueles que consideram ser obrigação do governo mínimo socorre-los nas crises, como ocorreu naquela que ainda corre, para a construção de câmaras.

Isto porque há um problema mundial que exige, segundo a diretora do FMI, Christine Lagarde, uma “solução final”. Desculpem o engano, nos termos da senhora Diretora, uma solução global, porque solução final foi o programa de Hitler contra od judeus quando percebeu que estava a perder a guerra. A solução global reclamada por Lagarde é para o problema da longevidade, pessoas gastando os orçamentos públicos com suas aposentadorias, prejudicando desta forma o necessário superavit para transferir os recursos na forma de juros aos honestos banqueiros.

Com o financiamento às câmaras, nossa queridíssima diretora, ao sair do FMI, poderá inaugurá-las como  primeiro bom exemplo a ser dado, deixando-se assassinar como ela pretende que os líderes mundiais façam  como solução para este excesso de gente velha gastando o rico dinheirinho  que deve ser destinado aos honestos banqueiros.

Afinal, os verdes anos de Christine Lagarde já vão longe…

Da biblioteca da família Cortesão

Estou em Portugal, mais precisamente no Porto. E aqui não deixo de folhear livros das bibliotecas da família Cortesão. Falo em bibliotecas porque há livros de Antonio Cortesão, que foi um gramático, de Jaime Cortesão, escritor do grupo Renascença dos começos do Século XX, e da biblioteca de um convento adquirida por Camilo Cortesão Abreu, pai da minha amiga Luiza Cortesão, em cuja casa sou hóspede. O texto abaixo é leitura destas minhas olhadas em velhos livros: 

“Tornar a creança dócil – eis o fim imediato que se propõem entre nós, os educadores quotidianos, pães, mães ou mestres. Conseguido elle, julga-se que uma grande parte, – a mais importante mesmo – do que é d’uso chamar-se educação está inteiramente realisada. Sem querer agora precisar o valor d’este termo, que tão poucos compreendem e tantos empregam com manifesto despropósito, procurarei fixar se a docilidade da creança, no sentido em que esta expressão em geral se entende – no sentido de obediencia a ordens impositivas e injustificáveis para quem as recebe – é util ou nociva, e se é um meio de dar ao educando as maiores possibilidades de vir a ser feliz e energico, com as suas faculdades de trabalho e de iniciativa harmoniosamente desenvolvidas.

A mais elementar e superficial obsevacão mostra-nos logo que o maior empecilho ao futuro equlibrio psicologico da creança é, precisamente, a exigencia da sua docilidade. Com efeito, é raro aquelle que, para a obter, não fórça o educando a reprimir os seus gostos, os seus desejos, a sua maneira de ser, emfim, empregando quasi sempre, não os meios persuadorios – que até certo ponto poderiam atenuar os perigos d’esse pseudo-sistema pedagogico – mas a violencia, a intimidação, desde os gritos descompassados até aos castigos corporaes.”

(João de Barros. A nacionalisação do ensino. Porto. Ferreira Ltda. Editores, 1911, p. 157-159)