Cinquenta anos separam um e outro ano. Nos movimentos de 1968 exigia-se o impossível, pregava-se o amor, livre das amarras conservadoras. Havia alegria nas manifestações, e muita música e dança. O futuro se abria para um novo tempo: aquele do presente de liberdade. Não era, pois, futuro: era o presente eternizado na liberdade.
A partir daí, uma plêiade de novos filósofos. De novas concepções. Nestes cinquenta anos, decreta-se o fim da história. Decreta-se o fim das metanarrativas. Viver o presente passa a ser a “ordem do dia”. O futuro é agora.
E esta vida presente como ideal se espalha nos projetos de pesquisa: o cotidiano se torna tema, porque o cotidiano revela o presente. Aparecem as obras de história do cotidiano. Na educação, pesquisa-se o cotidiano. Na antropologia, na sociologia: tudo era presente. A questão não se coloca para as ditas ciências da natureza, para a qual, desde seus começos na modernidade, o tempo inexiste, seu tempo é o tempo zero.
Deixou-se de pensar o futuro? Não. Ainda neste século alguns dinossáuricos continuaram a estudar Marx. A pensar o futuro, que deixou de ser preocupação das ciências humanas para se tornar uma questão dos partidos, e estes foram sendo ridicularizados quando não demonizados pelos bens pensantes.
Também no mundo da economia tratava-se de perpetuar o sistema, manter a máquina funcionando e produzindo lucros: o futuro como repetição do presente de exploração.
1968 não acabou porque suas ideias jamais se tornaram reais. E no cotidiano que tanto estudamos, gestava-se um futuro que em tudo contradizia o discurso de um presente livre das amarras, inclusive aquelas ditadas pelo ideal de construção de um futuro.
Pois o ano de 1968 acabou: o seu discurso do amor foi substituído pelo discurso do ódio. O conservadorismo se tornou o futuro possível: retrocesso a um passado. E o conservadorismo não é apanágio de brasileiros e seu voto pelo fascismo no dia 28.19.2018. Não. A direita ocupava cada vez mais o espaço político das nações, e governa já inúmeras delas.
As marionetes escolhidas para liderarem este pensamento conservador apresentam-se como palhaços, como bufões, todos dizem que o que falam é brincadeira. O nosso palhaço eleito, por exemplo, diante do STF argumentou que brincava quando dizia asneiras racistas e machistas no Parlamento.
E pelo “pitoresco”, seus ditos foram se tornando feitos. Está aí um paspalhão governando os EEUU intimidando o mundo. Logo teremos o nosso.
João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.
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